sexta-feira, dezembro 08, 2006

Mundo

Mais uma pra fila de idéias-hipopótamo, outro desses caminhões atolados que tentam manobrar em cima do barro molhado e engarrafam o fluxo das outras idéias. Se eu fosse por em prática, me consumiria coisa de dois anos, isso com dedicação diária, batendo ponto e sem direito de perder o tesão. Não rola, mas dá pena porque é tão boa que não tenho coragem de descartá-la.

A idéia era de dominação do mundo, mas começa que o meu Mac não é compatível. Mesmo que eu tivesse o último lançamento, este que vem com processador Intel Core 2 Duo, que é tão poderoso e auto-suficiente que não precisa de usuário -– todos os que compram o conservam numa redoma. Até venderia meu PowerBook fuleiro para comprar um novo se isso bastasse para dominar o mundo, mas parece que a versão do Civilization IV para Mac nasceu bichada, o jogo trava no meio sem maiores explicações.

Parêntese pra quem não sabe o que é Civilization IV. Civilization IV é um jogo de computador. Já passei da idade de gostar de games eletrônicos, mas neste há um pano de fundo histórico que ainda me fascina, além da puta jogabilidade. O jogador controla uma entre muitas civilizações reais à disposição, como os astecas, franceses, chineses ou babilônios. Começando no neolítico, tem que fazer essa civilização evoluir, fundando cidades, fazendo descobertas científicas e montando exércitos. O que o torna essencial pro meu hipopótamo é a diferença para os concorrentes do mesmo estilo: em vez de ser disputado em tempo real, os jogadores se alternam em turnos. Cada ano é uma nova rodada, as civilizações se movimentam e combatem uma por vez.

Essa é a condição ideal para que o jogo seja narrado num blog.

É o seguinte: cada turno é um post novo. Uma partida costuma ter cerca de 600 turnos, daí a necessidade de dois anos de vida presos nesse projeto, partindo do princípio que eu escrevesse todo dia. No primeiro post, um narrador, escondido numa bibliotecade uma cidade em ruínas, começa a questionar em que momento sua civilização começou a se ver como tal. Ele enxerga sinais de que o fim já aconteceu, seja na quantidade de emboscadores nas ruas, que superam o número dos que fogem das armadilhas, ou nas traças das estantes, que devoram mais livros do que a capacidade de reposição da biblioteca. Por isso, se debruça em pesquisas em busca dos números opostos, que lhe dissessem em que momento passou a haver menos emboscadores que emboscados, e mais escritores do que traças. Em seus estudos, estabelece como marco inicial a data de fundação da primeira cidade, 4000 a.C.. No segundo post, estaremos nesse ano.

A partir de então, cada turno será narrado por uma unidade, podendo chegar a um máximo de dez narradores em rodízio. O acaso pode selecionar um cavaleiro no calor do cerco a uma cidade inimiga ou um mineiro de uma ilha remota, mas as unidades vão falar apenas do seu entorno, não importa que o pau esteja comendo em outro continente; se a rotina dela for contruir uma irrigação numa planície, este será o seu assunto principal, podendo ou não pincelar sobre os eventos principais acontecendo em paralelo.

Acho que esse blog seria um experimento fantástico de escrita restritiva, essa que te impõe regras e temas e você tem que se virar em cima do que foi dado. No final da história, a civilização pode ser destruída ou dominar o mundo, de acordo com o meu desempenho no jogo. Mais legal ainda seria brincar com os desdobramentos de cada episódio na cabeça dos narradores. Digamos que uma unidade exploratória se confronte no início do jogo com uma unidade bárbara, e ganhe a luta. O que na hora pode ser narrado em primeira pessoa por um scout em pânico. que vence a batalha por acidente, pode, ao longo dos turnos, ser elevado a um feito heróico e depois a uma lenda contada por escrito em alguma epopéia clássica. Uma cidade tomada pelo inimigo pode levar os personagens a uma demanda por guerra santa a qualquer preço, o que por sua vez pode me forçar a, pressionado pela minha própria invenção, tentar retomá-la imprudentemente, e cada atacante sem sucesso ganha homenagens da unidade camponesa que trabalha abrindo estradas e tem um medalhão com a efígie do herói.

E por aí vai, são muitas possibilidades. Mas não dá, preciso de dois anos impossíveis de dedicação diária. Ninguém aí se empolgou e quer participar escrevendo em revezamento?

3 Comments:

At 11:01 PM, dezembro 10, 2006, Anonymous Anônimo said...

a pergunta que não quer calar: pra quê isso??
 

At 8:06 AM, dezembro 13, 2006, Anonymous Anônimo said...

"Acho que esse blog seria um experimento fantástico de escrita restritiva, essa que te impõe regras e temas e você tem que se virar em cima do que foi dado." - essa eh minha suposicao... inventou essa historia de restricao de tema, de quarto ao mundo e agora tem se virar nela. Fez bem. ou tem alguma outra razao?
 

At 11:41 AM, dezembro 14, 2006, Blogger Rodrigo Rego said...

Acertou de novo, Luyza. Eu li no meio do ano um livro em que o autor fazia exatamente isso, e resolvi tentar também. Razão não tem nenhuma outra não.

Mas acho que ela já responde a pergunta de cima, não responde, Paula?
 

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Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
+55 21 91102610
Rio de Janeiro

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