quarta-feira, dezembro 26, 2007

Pubidê – Publicitários Idealistas

Ouvi falar, não sei ainda se é verdade, que circula pela Puc (onde mais?) um grupo de alunos de publicidade cheios de ideologia. Já tem nome e tudo: Pubidê.

Publicitários não costumam manter convicções por muito tempo, a base da profissão é a maleabilidade do discurso. Num dia você defende os bebês foca para o Greenpeace, no outro passa com um Land Rover por cima deles pra mostrar uma aventura. Mas será mesmo, questionam os membros do Pubidê, que esmagar focas num comercial é a melhor maneira de definir o Land Rover como um carro aventureiro? Ou quem sabe um videogame com carros que esmagam focas não envolve o público ainda mais no universo da Land Rover? O Pubidê debate o método, não a mensagem.

O Pubidê é rigoroso. Quem entra explica a doutrina de marketing em que acredita e a partir de então só pode comprar produtos anunciados com a estratégia que defende. Eles não têm hora fixa pra se reunir, mas sempre tem um encostado numa quina da salinha do CA, e se chegar um segundo a discussão se abre automaticamente. São apenas seis membros, cada um representa uma corrente de pensamento da marquetologia.

O primeiro se chama Abel, e essa ordem é alfabética, e não de afinidade. Ele acredita que o futuro da propaganda é o viral. O melhor anúncio é aquele que desperta tanto interesse que o público se torna não só consumidor como colaborador na propagação. Ele usa Nike como o Ronaldinho Gaúcho, não vê tevê e só se atualiza através de blogs.

Anúncio favorito: Twix Gigante

O segundo é chamado Demiurgo, e ele crê que propaganda boa é a que vai direto ao ponto. Ele puxou créditos de jornalismo, e diz que um anúncio tem que funcionar como o lead de uma matéria: dizer o quê, onde, quando e a que preço antes de qualquer espalhafato. O público está cansado de rodeios, quem dera todo comercial fosse como os de supermercado. Só come chã, patinho e lagarto, e divide até frango de padaria em quinze vezes sem juros.

Anúncio favorito: Casas Bahia



Em seguida vem Jocasta, que acha que comercial é entretenimento. A peça deve contar uma história, encantar o consumidor para conseguir aliciá-lo. Ela só compra produto que tenha bichinho ou mascote, estoca gelatina Royal e congelado Sadia, depois limpa a sujeira no fogão com aquela esponja de aço que dança Felipe Dylon na televisão.

Anúnico favorito: Zoológico de Buenos Aires



O próximo é Leonel, que se graduou e está no mestrado. Ele teoriza que a grande arma da publicidade é o exagero. Quando um comercial mostra um caminhão de mulheres atrás do Zé e seu frasco de desodorante, ninguém acredita que isso seja possível. Mas é esse exagero que torna plausível a premissa absurda de que sovaco seco atrai mulher. Leonel usa Axe, mas não arruma namorada porque é um cientista: está acumulando roupa suja o ano inteiro para ver se seu sabão em pó faz mesmo o que o anúncio diz que faz.

anúncio favorito: Carlton Draught



A quinta se chama Taciane, e ela acha que outdoors, comerciais de tevê e virais não funcionam mais. 99% do que o consumidor vê é esquecido instantaneamente. Ficam duas opções: torcer para fazer publicidade que fique nos um por cento restantes ou anunciar só quando o consumidor quiser comprar, e acertar sempre. Sim, Taciane faz até supermercado com o Google Adsense, aquela barra lateral milagrosa que mostra oferta de sapatos quando você procura por sapatos no Google.

anúncio favorito: Apple e Nokia no Google Adsense

O último é Vinicius, o niilista, e ele crê que a publicidade acabou. O consumidor não acredita em mais nada do que vê, o excesso de propaganda criou nele uma camada intransponível de ceticismo. A única fonte confiável é o boca a boca: gastar com comercial é rasgar dinheiro. Um bom produto não precisa de publicidade nenhuma para se afirmar no mercado. Os outros cinco olham céticos para ele:

- E você tem algum exemplo de produto que dispense propaganda? – pergunta um.

Vinicius enrola um baseado.

- Oohhh! – e o debate acaba.

8 Comments:

At 11:10 AM, dezembro 27, 2007, Anonymous Anônimo said...

adorei a do zoológico...
agora diz aí, com qual dos 6 vc se identifica mais?
 

At 11:40 AM, dezembro 27, 2007, Blogger Alexandre Van de Sande said...

mm. voce conhece bem essa galera pra quem só "ouvir falar não sei se é verdade"...

boa escolha de comerciais ;)
 

At 11:42 AM, dezembro 27, 2007, Blogger Rodrigo Rego said...

Bem, se fosse me pautar só pelo discurso da web 2.0 que eu deveria obedecer, certamente o dos virais (a opinião da menina do Google Adsense é um pouco radical demais).

Mas artisticamente falando, fico mais encantado com comerciais como o do zoológico (embora nada impeça que anúncios de entretenimento possam se tornar virais e vice-versa).

Agora, se formos pensar em resultados, acho que o comercial tradicional já esgotou a fórmula, a maioria está imune a essa linguagem. E em breve as novas formas de propaganda que vêm surgindo vão em breve se esgotar também. O que não esgota nunca? Casas Bahia.
 

At 7:15 PM, dezembro 29, 2007, Anonymous Anônimo said...

Quer dizer que você acha que no curso de publicidade da puc soh tem patricinha, mauricinho e quando tem alguém com noções de ética é um bando de maconheiros? Como se na ESDE ninguém fumasse maconha.

É a mesma coisa que dizer que ninguém precisa mais de design, e que o iPOD venderia mesmo se não fosse bonitinho com tela sensível e fones brancos. Ou que tipografia é uma perda de tempo, que basta alternar entre Times New Roman e Arial e já tá bom.

Essas centenas de alunos que se formam na PUC todo semestre devem ser muito burras, porque aparentemente até você que não sabe merda nenhuma de publicidade acha que sabe mais que a gente. Estude um pouco antes de criticar os outros.
 

At 10:03 PM, dezembro 29, 2007, Blogger Rodrigo Rego said...

Oba! Mais hate mail pra coleção! Agora, o que é que estudam nessa tal de ESDE?
 

At 10:26 AM, dezembro 30, 2007, Anonymous Anônimo said...

Nao sei se eu gostei mais do post ou do hate mail. A combinacao dos 2 eh genial. Faz-me sentir mesmo sentada na elite intelectual...

Boas escolhas de comercial... Acho tb (como Vinicius e Taciane) q publicidade ja esgotou sua linguagem ha tempos e hj em dia uma boa peca publicitaria se desvinculou totalmente do seu objetivo primario de anunciar o produto (conhece a publicacao Lürzer's Archive? Tem otimos exemplos). O prazer de ver passa longe da vontade de comprar...

Por isso q eu desisti antes de tentar trabalhar numa agencia de publicidade aqui. Pensar e fazer produtos eh muito mais divertido...
 

At 1:21 PM, dezembro 30, 2007, Blogger Rodrigo Rego said...

Pois é, mas se a linguagem publicitária já saturou, porque as marcas exercem cada vez mais fascínio sobre as pessoas?

Acho que o papel da publicidade hoje é criar personalidade para um produto, (ou em outras palavras, branding), e direcioná-lo ao público que se identifica com ele.

As pessoas compram porque precisam expressar sua individualidade, e não há forma mais fácil de fazer isso do que endossando marcas que dizem o que você gostaria de dizer.

E é muito difícil ficar imune a esse processo. A pessoa tem que ser muito segura de si mesma, não basta conhecer a engrenagem por dentro. Tanto que publicitário é uma das categorias que mais cai no discurso publicitário.
 

At 7:09 PM, dezembro 30, 2007, Blogger Mauro said...

Muito legal, publicidade é um assunto inesgotável. As empresas de tabaco alegavam que as propagandas não eram voltadas para formar novos consumidores e sim para direcionar o produto ao publico alvo. Bem que podiam fazer uns outdoors (ou uns Banners no estilo "não anuncie aqui" do velho cocadaboa) anunciando as mercadorias do CV ou ADA. Se não provasse que o Vinicius está errado, seria uma boa campanha contra o consumo de drogas.
 

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Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
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Rio de Janeiro

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