segunda-feira, março 12, 2007

Carnaval de Bandeiras

Motivos não me faltam pra detestar carnaval de rua antes mesmo de ousar colocar uma ponta do dedão do pé no mesmo asfalto por onde passe um bloco. Não gosto de muvuca, de catinga, não bebo cerveja, não tolero marchinha de carnaval, nem sou fã da megalomania hedonista de contar mulher às dúzias. Daí o meu espanto ao constatar em julho passado que eu passaria todo resto de 2006 e início de 2007 trabalhando com esse tema no meu projeto final.

Minha primeira proposta foi recusada pela banca de orientadores no início do ano. Como eu não tinha mais cartas na manga, a solução foi seguir a recomendação dos professores e trabalhar com um tema que me interessasse. A primeira coisa que me passou na cabeça: bandeiras. Bandeiras têm tudo a ver com comunicação visual. A atividade símbolo de um designer gráfico, aquela que ninguém exercecom a mesma competência que ele, é a concepção de identidades visuais, ou seja, marcas e seu sistema de aplicações para empresas. E assim como as marcas representam uma empresa graficamente, as bandeiras fazem o mesmo por nações e ideologias. Eu coleciono bandeiras desde pequeno, e volta e meia escrevo alguma coisa aqui sobre elas, como esse texto e esse. Mas essa atração nunca teve muito a ver com design, eu gostava por mera curiosidade enciclopédica. Quem sabe um projeto final de graduação pudesse tornar esse interesse mais aproveitável.

A banca gostou do tema. Mas você vai fazer bandeiras do quê? Um redesenho da bandeira brasileira? Uma bandeira para a universidade? São propostas que não dão tesão e nem de longe têm a complexidade que um ano de trabalho pede. Então eu achei um livro sobre um festival de bandeiras em Valencia, Espanha. Dezenas de artistas tinham projetado bandeiras para a ocasião. Bandeiras que rompiam completamente com as convenções. Bandeiras com texturas, com combinações de cor loucas, geometria inusitada, bandeiras que davam um nó, se enrolavam sobre si mesmas, bandeiras tridimensionais. E que ficavam expostas na rua, uma depois da outra, decorando a cidade. Inspirado no livro, decidi que meu projeto seria uma decoração de rua feita com bandeiras de vanguarda. Faltava achar um bom motivo para pendurá-las.

Pensei no Pan. Pensei em feriados importantes, eventos culturais, mas em qualquer caso as bandeiras serviriam apenas como enfeite. O carnaval de rua surgiu com a lacuna perfeita para o projeto preencher, ou seja, problemas que seriam bem solucionados coma colocação de bandeiras nas ruas. A idéia é colocá-las ao longo do trajeto dos blocos de carnaval, cumprindo quatro funções:

- enfeitar a cidade para o carnaval. A festa é o evento mais importante do calendário da cidade e ela não ganha uma maquiagem à altura. Com bandeiras seguindo o trajeto dos principais blocos, a decoração ainda ganha um caráter orgânico, obedecendo a geografia festiva criada pelo povo;
- sinalizar o trajeto dos blocos in loco, para quem quer pular carnaval e para quem quer manter distância;
- chamar a atenção do carioca e do turista para o carnaval de rua, muito mais vigoroso que o oficial;
- dar personalidade gráfica aos blocos, criando coleções de bandeiras para cada um.

O projeto se dividiu em duas partes: elaboração das normas para confecção e colocação de bandeiras em qualquer rua do Rio e design de bandeiras para quatro blocos, exemplificando o projeto. Já a pesquisa se dividiu em três áreas completamente distintas: um levantamento sobre os quatro blocos escolhidos (Simpatia É Quase Amor, Banda de Ipanema, Suvaco do Cristo e Gigantes da Lira), uma pesquisa sobre o mobiliário urbano carioca, que serviria de suporte para a decoração, e uma análise da linguagem gráfica das bandeiras.

Todo o projeto foi pensado para que os próprios blocos fossem capazes de confeccionar e até instalar suas bandeiras, por isso a produção recomendada é artesanal, e a montagem foi projetada com materiais baratos e simples de instalar.

Nos próximos posts, vamos falar um pouco dos estudos de caso desenvolvidos para o projeto, ou seja, as bandeiras desenvolvidas para cada bloco.

Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
+55 21 91102610
Rio de Janeiro

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