domingo, novembro 25, 2007

Por que só banda velha toca em estádio?


Não vou mais no show do Police. Estava decidindo se valia à pena pagar 95 reais pra ainda ter que buscar no Maracanã os ingressos, mas eles esgotaram enquanto eu matutava.

Nem me passou pela cabeça a hipótese de um estádio de futebol completa e antecipadamente lotar pra um show de banda de rock. No panorama roqueiro atual, que conjunto mobiliza mais de dez mil pessoas quando vem ao Rio? Strokes? Franz Ferdinand? Não passam nem perto. O último que peitou Wembley com cancha de megastar foi o Oasis. Desde então sobrevivemos de bandas que parecem prontas pra decolar mas só dão vôo de galinha.

A cultura indie e a internet são as maiores responsáveis pela escassez de superbandas. A primeira semeou a idéia de que é preciso estar fora do sistema pra ter qualidade, a segunda colocou milhares de bandas sem mídia ao alcance de qualquer um. As duas juntas alimentaram a idéia de que para cunhar sua identidade musical é preciso formar um portfolio vasto de bandas obscuras. É o fim de Queen, Madonna, Pink Floyd, Rolling Stones. Ninguém mais aceita o que a MTV empurra, todo mundo agora é formador de opinião. Os grupos que tem êxito suficiente para serem adotados pelos canais de mídia convencionais são subitamente esnobados. O Oasis foi o último a almejar a dinossauritude, e foi atropelado pelas críticas. Hoje nenhuma banda ousa o estrelato. A cultura indie confunde popular com vulgar.

Exemplo mais claro que os Hermanos não há. Assustados com o sucesso de Ana Júlia, lançaram dois CDs mais MPBistas do que roqueiros, e em seguida um último disco quase etéreo. Querem consolidar um nicho, não arrebatar multidões. Por fim, como o frenesi não parava, e as críticas ficavam cada vez mais ácidas, a banda se separou.

O fim das superbandas de estádio é bom para a cultura? Se pensamos em cultura como seus produtores, com certeza. Nunca houve tantas chances de se fazer ouvir, sair da garagem para o Canecão, do blog para a Saraiva. E se pensarmos do ponto de vista do público? Também é bom. As pessoas têm mais chance de encontrar uma voz que diga o que lhes interessa.

Mas se pensamos em cultura com a herança de um povo, estamos mal parados. Há quanto tempo não surge um romance que marca uma geração, ou um artista plástico cujo nome não se limita ao circuito de arte? Estatisticamente, não faz sentido que uma geração seja menos talentosa que outra, mas mesmo assim todos os grandes artistas do século XX nasceram antes de 1950.

É lei de mercado: a oferta em demasia banaliza o produto, e embora dê voz a quem antes era injustiçado, torna cada vez mais difícil pinçar obras-primas. E se hoje cada um anda com seu póprio iPod, como vamos voltar a entoar hinos de geração?

14 Comments:

At 10:37 AM, novembro 26, 2007, Blogger Alexandre Van de Sande said...

eu por princípio sou a favor da idéia que não precisamos de megastars, e que a arte é mais democrática com pequenas constelações.

Mas você tem um ponto que pouca gente levanta por que é meio na contramão (e tenho que admitir gosto dos seus textos por causa disso) de será que a gente não preicsa de grandes épicos?

respondo com:
1-Será que precisamos mesmo? Talvez algumas gerações se destaquem pelos seus movimentos, seus conjuntos da obra. Quantos artistas anonimos enfeitaram as igrejas da idade média? Quem foram os pintores de paisagem dinamarqueses do século 17?

2-Será que essa estatística de "os melhores artistas do séc 20 nasceram antes de 1950" não é um bias histórico? Por que aprendemos arte basicamente lendo livros da geração passada que basicamente falava do que já era reconhecido na geração anterior. Talvez só apróxima geração saiba estudar com clareza quem foram as grande mentes da arte dos anos 80-90-00 que se equiparem com os Duchamps.
 

At 2:33 PM, novembro 26, 2007, Blogger Mauro said...

Acho que a própria definição de clássico é "aquilo que transcende o próprio tempo" (não me pergunte de onde tirei isso, mas é, pô...). Então não tem muito como saber agora o que será o próximo Queen ou o próximo Legião Urbana, tem que esperar mesmo.

Quanto às artes mais refinadas, coisas que não é todo mundo que sabe apreciar, como pintura, teatro etc... Acho que é porque a tecnologia tornou obsoleta a competição pela melhor técnica, e o foco ficou todo na... pra onde foi o foco? Hoje em dia não acho que dariam muita bola pro Rembrandt. Como eu devo ser o menos entendido de arte por aqui, vou parar de escrever besteira.

Eu realmente não consigo entender como o Mars Volta não se tornou uma febre até agora.

http://xkcd.com/339/
 

At 7:22 AM, novembro 27, 2007, Anonymous Anônimo said...

adorei a discussao. e estou diametralmente oposta em opiniao. preciso sair dessa reuniao rapido pra escrever!
 

At 5:35 PM, novembro 28, 2007, Blogger Unknown said...

desculpem o comentário nada a ver com esse post, mas queria ressuscitar um assunto:

www.jogowarinrio.blogspot.com

:)

tem que ser rápido quando se tem uma boa idéia.
 

At 5:39 PM, novembro 28, 2007, Blogger Rodrigo Rego said...

Nossa, eu tinha acabado de receber esse link quando vi o comentário!

O jogo é muito bem executado, pelo que dá pra ver. Não sei como ficou a jogabilidade, mas parece excelente.

E pelo visto não vai ser Printable. Alexei Zandereiev talvez entre em contato com eles.
 

At 8:20 PM, novembro 28, 2007, Blogger Mauro said...

Aproveita, Rego. Vai na onda e faz um tabuleiro de diplomacia, esse poderia ser printable, aliás, nem precisa imprimir. Ah... de que adianta, esses designers da esdi vão se recusar a aproveitar uma idéia que acaba de ser usada.

Já estou construindo minha listinha de natal...
 

At 9:25 AM, novembro 29, 2007, Blogger Unknown said...

war in rio, fantastico!

mas sobre o post, diz a verdade, ver show no maracana eh um dos maiores programas de indio q existe, nao? O som eh ruim (a acustica daquele estadio nao nasceu pro the police) e nao da pra ver nada. No fundo, o cd tem qualidade mto melhor e o pixel que vc ve la no palco poderia ser a dercy goncalves fazendo topless q nao faria a menor diferenca a distancia da arquibancada.

Entao qual eh a vantagem? o efeito dos isqueiros? Ok, so vejo uma, e mais pro superstar que pro ouvinte: deve ser emocionante ver 200.000 pessoas cantando sua musica.

Sou da teoria que o limite de interacao do homem em comunidade eh limitado. Esse limite, que eh diferente pro tipo de interacao, nunca passa de 3 digitos.
 

At 9:31 AM, novembro 29, 2007, Blogger Unknown said...

sobre a definicao do mauro de clássico é "aquilo que transcende o próprio tempo"... nao vou contestar mas usar como base: seria entao algo que serve de inspiracao pra proxima geracao de artistas criar em cima, certo? Isso se aplica aos Beatles (exemplo maximo da musica?), mas ao Legiao Urbana? Entao classico nao tem absolutamente nada a ver com qualidade? Qualidade eh realmente algo totalmente dependente de interpretacao? Eu eu posso dizer que "sua opiniao esta errada" apesar de ser um paradoxo? No meu mundinho pelo menos isso funciona...
 

At 9:46 AM, novembro 29, 2007, Blogger Unknown said...

alias, e se nossos Ipods fizessem Synch?
 

At 2:01 PM, novembro 29, 2007, Blogger Unknown said...

ainda off topic totalmente:

http://extra.globo.com/

o nosso amigo esdiano na capa do extra. hehe

o joguinho é fantástico mesmo. E isso pq ele colocou o blog no ar ontem!
 

At 2:50 PM, novembro 29, 2007, Blogger Rodrigo Rego said...

Estou a par. Eu e Alexandre já entramos em contato com ele.
 

At 2:53 PM, novembro 29, 2007, Blogger Rodrigo Rego said...

Aliás: eu cheguei a comentar aqui que já tinha tido uma idéia parecida? Ou você deduziu isso do post dos Printable Games?
 

At 5:27 PM, novembro 29, 2007, Blogger Unknown said...

não, só achei que eram idéias parecidas que estavam no ar. Dudinka, Omsk, printable games...

;)
 

At 7:23 PM, novembro 29, 2007, Blogger Mauro said...

Muita gente já teve essa idéia, o mérito está em realmente levá-la adiante. Tem tudo para ser um sucesso (ao menos até a Grow tacar uma ação judicial em cima)
 

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Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
+55 21 91102610
Rio de Janeiro

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