segunda-feira, outubro 13, 2008

Fernando Gabeira

Dizem que os altos figurões da Globo têm um jogo interno de manipulação do eleitorado. Sarro puro mesmo, sem ambições políticas. Uma eleição ou outra, pegam um sujeito qualquer para candidato, manipulam a mídia, e não tem erro, no final o cara está eleito. Às vezes até competem com dois diferentes no mesmo pleito para dar mais graça.

Depois se a coisa ficar feia depõem o eleito, porque a ninguém interessa também o país indo pro buraco. Foi o caso do Collor por exemplo.

Gabeira é a mesma coisa. Aliás, Gabeira é um caso especial. O jogo de manipulação do eleitorado, de tão fácil, já não dava mais barato. Os figurões da Globo estavam voltando para a cocaína. Preocupados com a produtividade em queda, os executivos resolveram subir o sarrafo. De duas maneiras:

1: Gabeira é de longe o mais improvável dos candidatos. Seu passado real: é funcionário público aposentado do almoxarifado do Museu da Imagem e do Som. Simpático, mas meio pancada da cabeça, dizem. Depois da aposentadoria mal saía de casa, assistia novela e os slides de uma viagem feita na juventude para Saquarema.
2: O objetivo dessa vez era eleger um candidato só com o apoio da elite. Nada de se sustentar no povão. Vamos manipular os jovens e os intelectuais, brincar com a cabeça dos mais críticos e dos mais independentes.

Mas como se transforma um zé-ninguém em modelo aspiracional de quem já está no topo da pirâmide social? A Globo precisou trabalhar a história e os ideais de Gabeira. Primeiro foram montagens fotográficas, espalhadas nos arquivos dos jornais para inventar seu passado. Gabeira anistiado, porque jovens e intelectuais adoram quem lutou contra a ditadura. Gabeira de tanga, porque adoram também as idéias avançadas.









É difícil de perceber, pois são montagens quase perfeitas. Mas olhando de perto vê-se que duas das "fotos de arquivo" de Fernando Gabeira, uma na praia, de tanga, e outra voltando do exílio, têm exatamente o mesmo rosto.


Bruno Barreto ajudou também, inserindo Gabeira no seqüestro do embaixador americano em seu filme “O que é isso, companheiro?”.

E depois o golpe de mestre: entraram com o aposentado Gabeira congresso adentro, colocaram ele gagá no microfone para soltar o famoso “Vossa excelência está em contradição com o Brasil!” diante de um atônito Severino Cavalcanti e uma câmara que não entendeu nada. Carregaram ele pra fora antes de a segurança chegar, e a imagem ficou gravada para entrar na história como símbolo do combate à corrupção no país.

Juntando uma história como essa e uma campanha que defendia as ruas livres propaganda e o discurso em alto nível, os figurões da Globo conseguiram transformar o aposentado Gabeira em xodó da elite pensante da cidade. E ela mesmo se encarregou de levá-lo para as outras classes sociais.

Os outros políticos como reagem? A maioria caiu no conto, como nós. Encara um adversário quase autista com excesso de respeito, colaborando para propagar a mentira. Gabera vai debatendo com eles e desfiando associações ilógicas como patinete para a polícia, avião contra a dengue e googlemaps contra as favelas. Qualquer outro não daria papo, mas da boca de alguém com tanta história e idéias tão avançadas, parece uma revolução.

Os poucos que sabem da verdade não conseguem se comunicar conosco pelos veículos tradicionais, todos da Globo. Espalham folhetos apócrifos, como o que li para escrever este post.

Outros passados inventados:
Michael Phelps
Passados inventados de celebridades mentirosas

Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

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