quarta-feira, abril 18, 2007

Salvando o mundo, minha parte

Acabo de colocar este blog sob uma licença Creative Commons, o que significa que deixo as regras de uso do seu conteúdo definidas de antemão. As regras são: tudo que estiver hospedado neste site pode ser usado e modificado por qualquer pessoa, pra fins comerciais e não-comerciais, desde que me dê o crédito.

Um registro convencional de propriedade intelectual prevê que o autor precise autorizar e ser recompensado pelo uso do seu trabalho. Mas às vezes essas regras podem restringir o acesso à obra, dificultando sua divulgação. O Creative Commons, ao estimular que as pessoas escolham que direitos seu trabalho terá, facilita ao mesmo tempo a divulgação do autor independente e o usufruto da obra por mais gente. É um pacto em que o autor e seu público saem ganhando.

Existem diversas outras iniciativas baseadas no princípio pactual, que acaba com a necessidade de um mediador (no caso do Creative Commons, uma gravadora ou uma editora) para que os dois lados sejam beneficiados. Na Alemanha, há um site que negocia transporte intermunicipal entre um motorista e candidatos a carona. O condutor indica o local e a hora de partida e chegada, a quantidade de vagas e o preço, que geralmente corresponde ao combustível gasto. Quem se interessar faz contato, pagando bem mais barato do que se fosse de trem ou de ônibus.

Outra iniciativa é o Couch Surfing, programa onde os candidatos inscrevem suas casas como hospedagens gratuitas para turistas, tendo em troca a possibilidade de se candidatar a hóspede nas milhares de outras casas inscritas pelo mundo. Além de nunca mais precisar pagar hotel, ainda ganha companhia e ajuda para lavar a louça quando estiver em casa.

Aos poucos, vai se despertando a consciência de que essas iniciativas não são apenas idéias isoladas, mas parte de um sistema nascente que muda o motor econômico vigente: sai o individualismo de Adam Smith, entra a cooperação de John Nash. Como naquela cena de Uma Mente Brilhante em que Russel Crowe prova que, abrindo mão de alguns direitos para se unir, um grupo consegue chegar ao seu objetivo muito mais facilmente.

Mesmo com tantos benefícios, muita gente duvida desse novo sistema, hesitando em ter que ceder para depois receber em dobro. Nossos pais certamente preferem conservar seus direitos, e só uma pequena parcela da nossa geração vai topar aderir. Mas quando os poucos de nós que tiverem visão de futuro virarem professores de história esquerdistas e inspirarem nossos filhos a mudar o mundo, farão da próxima geração uma sociedade bem mais cooperativa, que levará o modelo pactual onde nós nunca sonhamos que ele chegaria: hortas urbanas, e é o fim dos supermercados, oleodutos comunitários, e é o fim dos postos de gasolina, geradores de energia a partir da andança coletiva, e é o fim das contas de luz, e daí pra resolver o aquecimeto global, todos juntos de mãos dadas, é um pulo. O mundo no futuro vai ser bem melhor do que agora.

8 Comments:

At 12:26 PM, abril 19, 2007, Blogger Alexandre Van de Sande said...

taí, não esperava ver um post seu falando sobre creative commons!

Gostei, parabéns..

Sobre o couchsurfing eu não conhecia, mas participo do hospitalityclub.org (ou uma url parecida). Tive experinencias bem msitas: quando estive na inglaterra passei uma noite na casa de uma menina muuito legal, que estava com um outro casal do HC e fomos todos para um conhecer a noite. foi superdivertido. Mas ai pra pagar o karma no carnaval eu hospedei um califroniano "massoterapista" esquisitissimo, que era corcunda, fedia, passava o dia com um paninho sujo debaixo do braco que usava pra assoar o nariz, sujava a casa e espantava meus amigos. Estao muitos chocados até hoje com ele.
 

At 3:29 PM, abril 19, 2007, Blogger Guilherme said...

A cena do Mente Brilhante não é bem um exemplo do Equilíbrio de Nash, mas eu apóio totalmente essas iniciativas.

Eu gosto muito do criador do Creative Commons, o Lawrence Lessig. Ele tem um excelente livro chamado Free Culture que está disponível de graça na rede. Eu comprei outros dois livros dele e, se alguém quiser emprestado, basta falar.
 

At 5:39 PM, abril 21, 2007, Blogger Mauro said...

É, pode ser que no futuro as sociedades voltem a um sistema de produção mais colaborativo por um breve período, depois virá o asiático, e pam! Voltará o feudalismo. Depois o feudalismo vai entrar em colapso e o capitalismo surgirá de novo. Quem viver verá.

Esse negócio da carona, é um exemplo esquisito porque se todos pararem de usar trens e ônibus para viajar de carro, a emissão de carbono vai subir muito. Claro que entre viajar com uma ou duas pessoas e viajar com o carro cheio, é melhor dividir o carro, mas as pessoas que aderem a esse esquema são as pessoas que "iriam" pelo transporte coletivo se não houvesse outra opção. Aqueles que preferem o conforto e a independência não vão abrir mão de seu carro poluente e subutilizado.

Como o Bob disse, na maior parte dos casos o equilíbrio de Nash é aquela situação em que todo mundo sai perdendo para não deixar o outro ganhar às suas custas.

Ahhh, adoro ser advogado do diabo.
 

At 6:21 AM, abril 24, 2007, Blogger Unknown said...

Fiquei tao entusiasmada com o post que corri pros comentarios antes mesmo de ler. O conteudo eu ja podia imaginar, mas o que me interessava era saber se havia mais pessoas como eu no mundo (q nao entendem pq essas iniciativas nao existem ha muito mais tempo e com mto mais adeptos).

Os meus videos no YouTube tem Creative Commons (ainda q eu mesma tivesse tido que pagar 600 reais por 1 minuto de musica da Trama).

Ja brinquei de Hospitality Club e vivi experiencias otimas como receber de uma tradutora mto ocupada em Praga as chaves da casa dela e mil desculpas por estar no momento com tanto trabalho e nao poder sair comigo...

O Free Culture do lawrence Lessig eh otimo (ganhei do Wandersande o "livro falado"!).

Mas agora preciso contar uma coisa nova que foi meu sonho durante tempos:

http://www.mediamaster.com/

all your music, anywhere on Earth, for free. Eh a salvacao do meu disco rigido e mais um tapa na cara dos defensores do "all rights reserved". Ate qdo durar...

Se precisar seremos professores de historia, mas esquerdista, ja nao tenho tanta certeza...
 

At 11:47 AM, abril 29, 2007, Blogger Rodrigo Rego said...

Respondendo ultra-atrasado: Legal a dica do livro. Vou baixar e ver qual é.

Agora o mediamaster da Luyza. Não entendi qual é a dele. É só pra poder ouvir as músicas do meu computador em qualquer outro? Ou eu posso acessar múscas de outras pessoas? Se posso, ainda não descobri como. Se tiver isso tb, sensacional. Se for só mais um jeito de levar minhas músicas pra qualquer canto, chato.

Acho que ninguém vi ver isso aqui, então repito a pergunta lá em cima em breve...
 

At 10:20 AM, maio 03, 2007, Blogger Unknown said...

chato? eu achei bem legal poder uploadar os 50GB que eu tenho de musica e desafogar o coitado do meu computador, principalmente de graca. e ainda poder ouvir no trabalho.

Acho que pra ouvir a dos outros so se alguem fizer uma radio e vc nao tiver muito poder de escolha. Senao, os inimigos de Lawrence Lessig nao tinham deixado nem entrar no ar. Infleizmente.
 

At 11:06 PM, maio 04, 2007, Blogger Guilherme said...

Sobre música, existe o Pandora:

http://www.pandora.com/
 

At 12:07 PM, maio 10, 2007, Blogger Rodrigo Rego said...

o pandora não funciona muito comigo..
 

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Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
+55 21 91102610
Rio de Janeiro

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