À procura do wok perfeito
Essa viagem pra Europa de que voltei agora teve 3 objetivos. Na verdade 2, e mais um de bônus, mas depois explico isso. Importa é que dei com os burros n’água neles todos.
O primeiro era matar as saudades da Paula. E a gente teve, sim, um mês fantástico, mas é que nem beber água do mar, você dá um gole e já está com sede de novo.
O segundo era arrumar um emprego. Consegui duas entrevistas, lugares bacanas, gente legal que disse que me chamaria para freelas à distância assim que surgisse a oportunidade (não era emprego, mas ganha em euro, é um começo). Passaram dois meses e continuo aqui esperando.
O terceiro veio de brinde, em Lille, durante uma das entrevistas. Me levaram a um restaurante tailandês com uma proposta inusitada:
1. Encha sua cumbuca à vontade com carnes e legumes no bufê;
2. Escolha um molho e condimentos e dê a cumbuca para o cozinheiro;
3. Espere enquanto ele cozinha tudo em fogo alto no mesmo wok — uma panela tailandesa grande e funda;
4. Coma com arroz.
Não é só que fosse muito bom. O tipo de cozinha -— wok — era o mesmo do meu restaurante favorito em Berlim, que servia uma comida tão diferente que até então eu não conhecia nenhum paralelo. O cosmopolitismo não ajudava: cozinheiros americanos, decoração havaiana, temperos asiáticos, endereço alemão. Que diabo era aquilo? Não sabia, mas nunca tinha comido nada igual. Três anos depois, encontro algo similar.
O wok de Lille. Repare na tigela de arroz ao lado da cumbuca.
Mas o wok -francês, embora gostoso, não chegava aos pés do alemão. Começa que era self-service, jogando pra você a responsabilidade de misturar sabores desconhecidos. E ainda por cima, meu entrevistador não misturou o arroz dele na cumbuca. É disparado a melhor coisa do wok, deixar o arroz se impregnar no molho de especiarias, pra depois raspar do prato os blocos empapados misturados aos restos de carne e legumes.
Mas como ele não misturou, também eu não misturei. Não comi o wok perfeito. Nunca vou voltar a Lille de novo, então precisava achar um wok em Paris.
Internet. Tinha um, só um, perto da Bastilha. Mas antes, Amsterdam, que já estávamos de saída.
Amsterdam é linda, com suas lojas de croquete iguais aos do Alemão e suas -— surpresa — dezenas de wokerias fast-food.
Mas não era o paraíso dos woks. Woks fast-food cobram por cada ingrediente e não passam de um yakisoba fajuto. Saímos da horrível Amsterdam 3 dias depois sem ter comido um só wok que prestasse.
Wok fast-food de Amsterdam. Mesmo na foto publicitária, você vê que está mais pra yakisoba. E nem cumbuca eles dão, que vergonha.
Em Paris seria diferente. O restaurante era elogiadíssimo. Era caro. Jantar de despedida. Comemos entrada e tudo. A cumbuca já vinha com arroz dentro. No bufê, soubemos escolher melhor as carnes e legumes. Coloquei gergelim por cima. Paula e eu comendo com fúria, suguei cada arroz encharcado no molho de coco.
O wok de Paris. Mais do que aprovado, apesar dessa aparência de vomitado.
Saímos felizes e empapuçados, mas ainda assim, nunca seria como Berlim. O wok alemão, três anos depois, virou mito. Nunca nenhuma comida no mundo vai alcançá-lo. Meu consolo era que ao menos estava em melhor companhia.
O wok berlinense, imbatível. Na foto parece vegetariano, mas acredite, essa cumbuca é mágica.
12 Comments:
At 6:34 PM, março 17, 2009, Mauro said...
Qualquer dia eu saio de viagem para fazer o mesmo, mas em busca do tártaro perfeito.
O que eu não entendo é por que chamar esses pratos de wok como se fosse uma coisa só. Pelo que eu vi até agora quase toda a cozinha asiática (chinesa, tailandesa, vietnamita...) é feita no wok.
A comparação tem que ser feita prato a prato.
At 6:37 PM, março 17, 2009, Mauro said...
Opa, você escreveu condimentos. Dá nervoso. Pode apagar isso aqui depois de corrigir.
At 6:44 PM, março 17, 2009, Rodrigo Rego said...
O wok é a panela, mas a cozinha que as pessoas chamam de wok é mais específica: vem numa cumbuca, vem tudo misturado (suruba de legumes, carnes e arroz), e é tudo cozinhado junto (acho que isso não acontece normalmente, acontece?)
E não é condimentos? O que ue errei? Tem até uma entrada na Wikipedia pra condimentos.
At 7:09 PM, março 17, 2009, Anônimo said...
Qual é o problema com condimentos?
E porque esse pessoal da Ásia tem que comer arroz todo santo dia? Meus amigos da China e da Indonésia comem arroz todo dia (inclusive café da manhã) e ainda por cima sem sal!
Acho que vou aproveitar minha última semana aqui no Rio pra fazer a busca da empada perfeita! : )
At 8:44 PM, março 17, 2009, Rodrigo Rego said...
Ué, mas a gente come arroz todo dia também... a diferença é que colocamos feijão em cima.
E quero ver você buscar a empada perfeita na Europa. Aqui é mole!
At 4:42 PM, março 18, 2009, Mauro said...
Que vergonha, a minha vida toda eu escrevi codimento. Nãaaaaaaaaaaao!!!
Owned total. Não posso nem culpar a reforma ortográfica.
At 4:47 PM, março 18, 2009, Rodrigo Rego said...
Putz, só você mesmo, cara. "Codimento"???
At 7:44 AM, março 19, 2009, Anônimo said...
Rodrigo,
aquele wok de Berlim era "o bicho", como se dizia antigamente..quero saber onde tem um desses no Rio..quem sabe dizer??
At 10:53 AM, março 19, 2009, Anônimo said...
eu quero eh saber onde fica o mitico wok de berlin, q pra mim eh mais perto.
At 11:37 AM, março 19, 2009, Rodrigo Rego said...
Fica bem no início da Kastanienallee, em Prenzlauer Berg (ô língua).
O nome do lugar é "Der Imbiss", tem uma certa cara de pé-sujo (como indica o nome, aliás), e tem um símbolo do McDonald's invertido.
Mas baixa um pouco a expectativa. Se acontecer com vc o memso que comigo, o wok não vai causar tanto impacto assim da primeira vez. Mas você vai se pegar pensando nele, meses depois de ter comido. E vai querer ir de novo e de novo... e quem sabe o mito acaba te atingindo também.
At 8:52 PM, abril 05, 2009, Anônimo said...
Soube que tem um restaurante novo no Leblon, o Samoa, que tem wok. Se é bom, eu não sei (até porque nunca comi esse tipo de gororoba), mas não custa tentar. ;)
Bjo.
At 7:10 PM, julho 17, 2009, Mauro said...
Só para deixar registrado: Comi o Wok do Samoa ontem e achei um lixo. Eles usam arroz parbolizado, em vez do Basmati, o arroz de jasmin ou o tal do glutinoso. Pelo menos no sushi e no temaki eles usam o arroz certo.
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