domingo, julho 10, 2005

Os designers alemaes sao melhores que os brasileiros?

Sao. E nao adianta choramingar, espernear e tentar dissimular o complexo de inferioridade. Se havia alguma duvida sobre a questao, caiu diante da exposicao anual dos projetos dos estudantes da faculdade. Estou admirado, impressionado, abismado, chapado, embasbacado com o conjunto do resultado exibido nessa semana que se finda. Espalham-se pelos corredores, salas, paredes, tetos, milhares de trabalhos de fotografia, ilustracao e videografia, posteres, interfaces, moveis e robotica, livros, jogos, tipografia e experimentalismo. Um desbunde.

Onde estavam essas pessoas ao longo do ano, em meio as tardes de ramerrame onde reinava a pachorra naquela ilha iluminista enquadrada num raio de cinco quilometros de mato por todos os lados? Em que área 51 aprenderam a desenvolver projetos de design em segredo de estado tao bem feitos? A exposicao anual da Fachhoschule Potsdam é tudo o que sempre se sonhou fazer na Esdi, só que multiplicado por dez. É da responsabilidade de cada professor ter os resultados de sua turma exibidos numa parede ou sala específica, mas sao os alunos que contribuem decisivamente para a organizacao e montagem de tudo que é visto ali, com uma mobilizacao e dedicacao que nunca antes presenciei.

Passei o dia da montagem e inauguracao sonhando acordado, empurrando uma mesa aqui e ali, completamente absorvido pela orgia gráfica a minha volta, muito mais estimulante do que qualquer exposicao de medalhao do design, porque feita pelos nossos semelhantes, essa galera com quem voce fala besteira na hora do almoco.

E com trabalhos muito melhores que os nossos, brasileiros esdianos de um modo geral. Por mais que o todo sempre encante e eclipse os trabalhos fracos (que estao lá, claro, eu e Ricardo já demos várias risadas com os absurdos mostrados na aula de video), no geral aqui a qualidade é maior sim. Razoes? Já que superioridade racial é argumento meio fora de moda, podemos citar o fato de os alemaes entrarem mais maduros na faculdade (22, 23, as vezes até mais), e com muito mais bagagem visual do que nós (a selecao aqui é feita por portfolio, nao tem o inoperante vestibular). Além disso se dedicam muito mais aos estudos, seja porque nao tem um estagio pra atrapalhar (só se estagia durante um semestre aqui, e tem que largar a faculdade), seja por mais senso de responsabilidade. Somando-se a isso, a total liberdade de escolha dos cursos lima da sua vida as matérias tampao, que se cursa pro obrigacao, como sao oitenta pro cento das da Esdi.

Falar de exposicao anual deve ter dado uma pista de que o semestre aqui acabou. Passamos agora para a segunda fase do intercambio, o estagio. Admito que nao tenho muita vontade de faze-lo, o primeiro ímpeto é cursar outro semestre pensando que "agora vou me integrar nesse universo paralelo que estava a minha volta e eu passei batido". Vamos ver no que dá. De qualquer forma, fim de semestre é um bom motivo pra reanimar o falecido multiply, que estou devendo fotos desde a Krakóvia até a exposicao, passando pela Itália e pelo meu aniversário. Já já nas bancas.

4 Comments:

At 1:12 PM, julho 11, 2005, Blogger Mauro said...

Vc viu a guerra de catapultas e concurso de bicicletas que eu fotografei na Holanda? Eu pensei a mesma coisa (mas talvez a Esdi tenha coisas deste nível e eu nunca ouvi falar).
Outra coisa: eh com todo mundo que esta acontecendo esse negocio do blogspot nao aceitar mais acento? Eu tenho a impressao de que costumava aceitar...
 

At 1:11 PM, julho 12, 2005, Blogger Rodrigo Rego said...

nao vi a guerra de catapultas, é recente esse post, mauro?

alexandre, eu demoro um hroa pra ir e uma pra voltar, e os outros estudantes que moarrm em Berlim tambem. Aqui os impsotos sao mais altos que no Brasil (embor adeem retorno). E o desemprego é ainda masi alto... Será que é superioridade racial memso? =)
 

At 11:08 PM, agosto 01, 2005, Anonymous Anônimo said...

O ensino tende a ser melhor quando há incentivo a se aprendeer direito. Tem um pouco de chute, mas creio que o salário de um designer na alemanha seja bem maior que no Brasil. Não deve ter muitos recém -formados em design por aí pensando em fazer concurso público. Aqui o designer, engenheiro, médico, economista, adE!vogado ou seja lá o que for, nunca sai da faculdade com a certeza de ter um futuro promissoer na carreira que ecolheu.Ninguém por aqui descarta a póssibilidade de um dia prestar um concurso ou mudar completamente de carreira. Perde-se então o incentivo a se engajar de corpo e alma naquilo em que se faz de melhor e com mais prazer. Perde-se também o incentivo a se pressionar os professores pela excelencia das aulas, não só por parte dos alunos mas também pelos reitores das universidades que competem pelos melhores e mais exigentes alunos.
No computo geral, a economia toda sai pérdendo. O tempo em que as pessoas poderiam investir se especializando em suas carreiras é gasto em estudo de bobagens que se prestam apenas pra se passar num concurso.
 

At 11:01 AM, fevereiro 12, 2006, Anonymous Anônimo said...

É meu caro, temos que encarar a realidade...ainda somos do terceiro mundo!
Pelo menos vcs tiveram o oportunidade de ver e viver 1ºmundo para voltar e impreguinar tudo por aqui. Quem sabe assim nós chegaremos ao menos no patamar de 2ºmundo(se existisse,é claro.Pois esta estória de país em desenvolvimento,país do futuro,gigante adormecido, já encheu o saco!)
Por isso,é, que eu acredito que nós pais e algumas universidades do 3ºMundo vamos continuar a mandar nosso filhos para fora na experança de chegarmos lá...
Mas por enquantos vamos aproveitar essa nossa diversidade e mostrar para o mundo a criatividade que os brasileiros tem!
 

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Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
+55 21 91102610
Rio de Janeiro

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