sexta-feira, outubro 23, 2009

Por que não vendi todos os meus CDs

Alguns homens compram carros esportivos, outros tomam bomba, outros tomam Viagra. Cada um dá seu jeito. O meu foi acumular uma coleção de coisa de 300 CDs. Empilhados, conservados, meticulosamente catalogados por gênero, número e grau, e há 4 anos criando craca numa estante que vai do chão ao teto do meu quarto.

Mas a partir de hoje eles estão livres. Vendi tudo. Soltei-os para espalhar a boa música pelo mundo. Toda a minha estante foi desocupada.

Toda? Não! 6 discos povoados por irredutíveis gauleses ainda resistem ao invasor. Esse post é a história por trás desses discos, e porque não tive coragem de vendê-los.

1. Jukebox the Ghost – Let live and let ghosts
JtG é uma banda de indie pop que tocava na praça onde eu fazia digestão, numa bela tarde de sol em Nova York. A música era tão boa que acabei comprando o CD, o primeiro em 4 anos. E além disso era tão bacana o encarte, que isso se acrescentou à culpa latente por vender um disco que eu acabara de comprar.

2. Shu-bi-dua - 16
São os Mamonas Assassinas da Dinamarca. Evidentemente que numa língua escandinava não se entende nenhuma piada além de um eventual peido, então a caixinha ajuda a manter o contexto humorístico da coisa. E mais importante, foi presente de um bom amigo.

3. Lynyrd Skynyrd – One more from the road (25th anniversary deluxe edition)
O disco mais caro que eu já comprei. Na conversão, daria umas 100 pratas. Vem num encarte acachapante, coisa finíssima, cheio de luzes e dobras. Sério, não tinha como cogitar a possibilidade de aceitar uma oferta de 5 reais por ele.


4. Stormtroopers of death – Speak english or die
Não sou fã de hardcore, nem da filosofia niilista da banda, de se sangrar no palco e enfiar o braço da guitarra na caixa de som. Esse é um dos poucos discos que eu comprei pelo design, e pela mesma razão, não vendo. O CD é recortado em forma de serra circular, projetado pra arranhar lentamente o aparelho de som cada vez que toca, até inutilizá-lo. Gostou do som mas não quer danificar seu CD player? Tenta baixar no site deles. Vem tudo com vírus.

5. Almanaque anos 80: Nacional
A seleção é ótima, fugindo bastante do óbvio: Betty Frígida (melhor música da Blitz), em vez de Você não soube me amar, Corações e Mentes (melhor dos Titãs), em vez de Sonífera Ilha, Rebelde sem causa (melhor do Ultraje), em vez de Inútil. Mas nada que eu não faça melhor numa playlist de iPod. Já deve ter dado pra perceber que o que pesa mais na minha seleção não é o conteúdo. Os caras do marketing tiveram a sacada de simular na caixinha do CD um daqueles estojos dos anos 80, cheios de traquitanas. Vem com tampa acolchoada e 3 botões. De um sai apontador, de outro uma lupa, e do 3o a bandeja do CD.

6. Ben Bagley – Ben Bagley's Cole Porter
Esse eu mantive por uma postura ideológica. Ouvi falar do Ben Bagley num curso que estou fazendo na UFRJ: “Cultura digital e capitalismo cognitivo”. É um comediante americano famoso pelas imitações, que descobriu uma brecha formidável na lei de direitos autorais para praticamente legalizar a pirataria. Ao contrário do Brasil, nos EUA, o direito de uma música é sempre do intérprete, e não do compositor. Sabendo disso, Bagley, em protesto, resolveu regravar os discos de Cole Porter, que teriam caído em domínio público não fosse a prorrogação do copyright aprovada agora no senado americano.

Bagley imitou a voz de Porter e usou os mesmos arranjos. Na prática, é como ouvir a gravação original. Dá pra baixar tudo de graça no site dele, ou encomendar o CD pelo preço de fabricação.

Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
+55 21 91102610
Rio de Janeiro

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