domingo, junho 25, 2006

Mal menor

Supondo um jornal isento. O ideal seriam vários, internacionais, respeitabilíssimos e parâmetros para a imprensa brasileira, mas aí acho que já é muito devaneio. Supondo um jornal só mesmo, nacional, que não tivesse preocupações com vendagem no dia seguinte, com agradar os leitores, que se interessasse só pelo bem da nação, e supondo que a filtragem dos arapongas da CBF conseguisse que só esse jornal chegasse à seleção brasileira em Bergisch Gladbach. E nada de internet na concentração também. E também nada de entrevistas nem de Fátima Bernardes. Supondo que esse jornal isento fosse a única forma de contato da delegação com o mundo exterior. Se um dia isso for possível, a manchete que eu daria depois da goleada de quatro a um sobre o Japão seria:

“Só?”

E o subtítulo:

“Seleção finge que dá espetáculo, mas não engana ninguém.”

No corpo do texto viria uma análise cáustica da inoperante atuação do Brasil diante de um cachorro morto que tomou foi pouco chute. Em seguida manchetes fabricadas de jornais estrangeiros, debochando da atuação: Quero ver fazerem o mesmo sem o Zico do outro lado, diria o Olé, da Argentina. Ronaldo dá o último suspiro de vida antes de sua morte futebolística, clamaria o Gazzetta dello Sport, italiano. A magia brasileira parece sepultada com a insistência do técnico em escalar dois zagueiros, analisaria o Marca, da Espanha.

O mundo continuaria debochando do Brasil, até que o Parreira, inflamado pelo complexo de vira-latas, escalasse o octeto, formação com oito atacantes, o Dida e dois laterais ofensivos. “Que é pra eles sentirem a força do nosso futebol”, fala o técnico na coletiva, logo antes de tomarmos de cinco a quatro de Gana nas oitavas de final.

E com o Brasil eliminado antes da hora, não seríamos desfalcados com os 186 bilhões de reais previstos em prejuízos com os próximos três feriados auto-impostos. É um jornal que se preocupa com a nação, é um país que vai pra frente, apesar da copa.

sábado, junho 17, 2006

Republicas

Antes de você apostar na seleção da República Tcheca, eu já sabia que eles tinham um timaço. Claro, quase estragaram tudo perdendo agora pra Gana, mas ainda acho que vão longe nessa copa. Estou botando fé que vão chegar até as semifinais, depois de vencer França e Itália, sendo eliminados pela Argentina em seguida. E coroando sua participação, derrotarão a Inglaterra na disputa pelo terceiro lugar. Exagero meu? É verdade que não tenho como controlar uma parcialidade em favor da República Tcheca. Adoro esse país. Mas até o Parreira os têm incluído entre os candidatos ao título. E eles têm Pavel Nedved, um craque que jogaria em qualquer seleção brasileira. Além dele, um ótimo goleiro e uma equipe talentosa.

A única coisa que não gosto na República Tcheca é essa história de colocar República no nome. Pra quê a ênfase? Hoje os modelos republicanos são imensa maioria no mundo. Se as exceções, como a Inglaterra, quisessem se chamar Monarquia Parlamentarista Inglesa, vá lá, não é em todo lugar que se encontra uma. Mas quando se embola o sistema de governo no meio do nome do país, ele vira mero adjetivo para o regime. Incensam a república passageira e esquecem da valorosa tribo eslava dos tchecos, que se fixou mil e tantos anos atrás no vale do Vltava, fundou Praga, e apesar de escorraçada de todos os lados por vizinhos mais poderosos, conseguiu fincar raízes.

Claro que às vezes até há um bom motivo pra se colocar república no nome. Quando o que tem de melhor num país é estar ele exatamente no cruzamento das medianas do continente mais pobre do mundo, até melhor chamá-lo de República Centro-Africana, em vez de algo como África do Centro. Ganha um mínimo de pompa. Em outros casos, a aderência do sistema de governo ao nome do país atenua a sordidez do regime, como a República Democrática do Congo, na qual só há democracia se a cracia for do demo.

E há, claro, os Estados Unidos. Mas num país que teve o despautério de se batizar com o nome do próprio continente, é até melhor ficar conhecido pelo seu preâmbulo mesmo. A soberba sobrevive apenas na nacionalidade, sempre que os chamamos de americanos, quando americanos somos todos nós. O termo norte-americano corrige um pouco a ditorção, pelo menos deixa de ser assunto nosso. Mas pra não ferir suscetibilidades mexicanas e canadenses, eu os chamaria de norte-americanos do meio.

segunda-feira, junho 12, 2006

Minha superstiçao

Superstição é mania quase institucional durante a copa. Vejam o Zagallo com o número treze ou os diversos profissionais místicos enviados para fazer mandingas pelos times esquisitos. Não será estranho, por exemplo, se Zinedine Zidane cair no campo e começar a se contorcer justamente na hora de marcar o gol contra a seleção mais fraca de sua chave, já que tem um sujeito na delegação de Togo responsável pelo vodu.

Não conheço ninguém no Brasil que se proponha a chegar tão longe, mas há um clima de competição velada em torno de quem tem a mania mais bizarra no que tange a jogos da seleção. A própria Globo promove a heresia, divulgando que o Arnaldo César Coelho usa sempre meia bege durante os jogos, mas ele é pinto perto da minha superstição.

Na verdade não é bem uma superstição, pois tenho plena consciência de que não vai alterar o resultado do jogo. Mas o diabo é que não consigo me concentrar na partida enquanto não formar uma palavra com as iniciais dos times no placar. É, você sabe o que eu estou falando. Inglaterra e Paraguai, por exemplo. No canto da tela fica escrito ING x PAR, que forma “pingar”, e eu só relaxo depois de descobrir.

Alemanha e Costa Rica, ALE x COS, faz “sacolé”, Holanda x Sérvia e Montenegro, HOL x SMO, “molhos”, Itália x Gana, ITA x GAN, “antiga”, e até já pensei no jogo do Brasil, que é pra poder dedicar minha atenção total aos bons fluidos para o nosso escrete: BRA x CRO, “cobrar”. Essa não foi difícil. A que me exigiu mais tempo mesmo foi Suécia contra Trinidad e Tobago, SUE x TRI, cuja única possibilidade que me acorreu foi “situer”. Situer não é português, mas como os leitores francófonos desse blog devem saber, significa “suicidar-se”.

sábado, junho 10, 2006

Ronaldinho e Lula

O Fenômeno não perdeu tempo depois que o Lula duvidou de sua esbelteza numa videoconferência com a seleção. Chamou-o de pinguço, duvidou ele também da capacidade do presidente de manter-se sóbrio depois de uma churrascada. Esse entrevero entre os dois homens mais importantes do país prova duas coisas.

A primeira é que Ronaldinho é um craque cada vez mais completo. Atingiu ontem o patamar de Romário, afirmando-se não só como artilheiro mas também como brilhante artesão de respostas malcriadas. A segunda diz respeito à inversão de poder que ocorre no Brasil durante a copa do mundo. Se depois do despropósito cometido pelo Ronaldinho, quem tem que escrever uma carta de desculpas é o Presidente da República, tem alguma coisa de cabeça pra baixo na hierarquia da nação. Se bem que esse é o mesmo presidente que afinou pros mensaleiros, pro PMDB, e até pra Bolívia.

Pensando melhor, isso não prova coisa nenhuma.

quarta-feira, junho 07, 2006

Desembolog na Copa!

Seguindo a onda iniciada por blogs e colunas Brasil afora, resolvi eu ir pra copa também, de onde farei uma cobertura exclusiva. Mas não se iludam. Exclusiva não significa que pretenda eu lançar aqui pautas únicas, ou provê-los de acesso aos bastidores da organização e à intimidade do escrete. É exclusividade mais no sentido monotemático mesmo. Prometo, do dia de hoje até a final dez de julho, dedicar o Desembolog somente ao único assunto que interessa a qualquer um que consiga sintonizar a TV no Galvão Bueno. Copa.

Discordo de quem acha que a copa do mundo aliena. Que o brasileiro não vai mais pensar em samba, novela e sexo, só futebol. Balela. É durante a copa que o Brasil mais se debruça sobre o mundo. Do alto da nossa supremacia, oferecemos magnanimamente o olhar bondoso aos coadjuvantes que tentam nos impressionar. Aprendemos como a Costa do Marfim paralisou sua guerra civil para assistir sua seleção. Decoramos os vários nomes sob os quais já disputaram a copa aquelas repúblicas instáveis nos Bálcãs, hoje representadas por Croácia e Sérvia e Montenegro (que aliás já se desmembrou em duas mês passado, mas vão jogar unidas mesmo assim). Tomamos as dores dos jogadores de origem árabe que são discriminados na seleção francesa, e os negros na inglesa. Ou o xamã que o Equador vai levar pra Alemanha para evitar mau olhado nos campos onde o time jogar. O esquema de segurança paranóico da seleção americana. A máfia de apostas italiana. O castelo em ruínas de Königstein. A copa é o melhor pretexto pra descobrir o mundo, aprender as bandeiras das trinta e duas seleções pra pintar no chão da rua, maravilhar-se com as diferentes culturas pra no final passar sambando por cima delas todas com nossa alegria e ginga muito superiores.

Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

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+55 21 91102610
Rio de Janeiro

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