terça-feira, março 29, 2005

a hipocrisia européia

Em Londres sempre que você sai do metrô tem aquela placa temerosa: "Beware of Pickpockets". Em Roma também tá cheio de aviso assim, e até em Berlim, quando fui num cybercafe, achei um, dizendo que eles agiam DENTRO do lugar. Eu olhava praquilo e pensava: "europeu é muito reclamao, nego mora num país perfeito, e aí um dia um imigrante bate a carteira de alguém e já fazem o maior alarde. Queria ver se morasse no Rio de Janeiro."

Que inocente eu era. O pickpocket é muito pior que qualquer pivete cheirador de cola, porque ele é antes de tudo um hipócrita. É o cara que fica de butuca, leva a grana da velhinha e depois a ajuda a atravessar a rua. O pivete ao menos assume que "eu sou do mal", e quando quer te assaltar bota um caco de vidro no teu pescoco e se anuncia. E com ele ainda tem jogo, "nao leva os meus documentos nao, me deixa dois reais pra eu pegar o ônibus", com o pickpocket nao, perdeu, babau, e se ele te encontrar de novo ainda sorri e fala "bom dia", o safado.

Pois é, nao chegou a dar certo a tentativa do cara de me roubar. Quando eu vi o aviso no cybercafe, mesmo debochando passei o pé pela alca da mochila, e quando ele puxou enganchou na minha perna, e ele desistiu e saiu fora.

Depois do assombro inicial, avaliando se aquela cena inusitada tinha sido mesmo uma tentativa de furto, senti três sensacoes, as três bobas: vontade de partir pra cima do cara e esganá-lo (mas só vontade mesmo, que eu nao me meto com um turco com o dobro da minha altura), sensacao de esperteza por ter "vencido" o cara e evitado o roubo, e um patriotismo idiota, já que no Brasil pelo menos nego nao te rouba dentro da loja.

A partir de agora, durmo com um olho aberto.

quinta-feira, março 24, 2005

Aproveitando os provérbios...

Se "todos os caminhos levam a Roma", e "em Roma como os romanos", entao os habitantes da cidade andam se oferecendo explicitamente para serem vítimas de práticas antropofágicas. Nao é à toa que "quem tem boca vai à Roma".

Amalfi: cidade construída pelas regras da natureza

Falei antes que só ia falar besteira nesse blog, mas nao deu pra resistir: segue aí um pouco de reflexao séria. As fotos para ilustrar o que estou falando eu prometo disponibilizar muito em breve.

Durante essa viagem à Itália que antecedeu o início das aulas em Potsdam, estivemos basicamente em dois lugares: Roma e a Campania, regiao ao sul que pega Nápoles e as cidades litorâneas da Costa Amalfitana. Em Roma, tudo é suntuoso, das ruínas antigas às igrejas do Renascimento, uma arquitetura projetada para impressionar. Já as cidades da Costa Amalfitana sao erguidas anarquicamente sobre escarpas íngremes que caem no mar. Elas tem uma configuracao tridimensional, com ruas que abrem túneis por baixo de casas, casas que ficam dentro de túneis, pontes e escadas por todos os lados e quase nenhum acesso por carro. O sujeito pode se locomover nao só para frente e os lados, como também para cima, para baixo, e para onde mais levarem as imprevisíveis ruelas estreitas.

Qual dos dois ambientes é o mais interessante já ficou meio óbvio. Amalfi é ao mesmo tempo a antítese das arquiteturas moderna e clássica. As paisagens variadas que se controem ali dentro sao as que mais se aproximam das criadas pela natureza, pois se de perto nao têm lógica e sao às vezes até feias, o conjunto é muito mais coerente.

Além disso, como na natureza, o todo é fruto do acaso e do interesse particular de cada cidadao, portanto nunca poderá ser projeto de uma só cabeca genial. A autenticidade nesse caso só existe quando vem de uma "guerra de sobrevivência" dos próprios habitantes, e nao de uma planta baixa. Amalfi é um organismo frágil e ao mesmo tempo muito forte, pois por mais que as casas dependuradas sofram risco constante de desabamento, a perda de uma dúzia delas nao compromete tanto o conjunto quanto a falta de um só rococó de igreja barroca ou um só piloti de prédio moderno.

Dava uma boa tese de conclusao de curso. Pena que eu nao sou arquiteto.

Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
+55 21 91102610
Rio de Janeiro

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