sábado, agosto 25, 2007

Como se posicionar num ônibus cheio

Sempre que eu dirijo tenho a impressão de que vou matar alguém, por isso é raro alguém me flagrar ao volante. Até pegava o carro com mais freqüência nos primeiros meses de namoro, mas desde o incidente com a colméia que eu e Paula concluímos que todo mundo ganharia se fosse ela a motorista oficial. E desde que assumi o controle do porta-luvas, suas crises de hipertensão diminuíram muito.

Por isso tenho sido a vida inteira um passageiro de ônibus. Hoje se completam quinze anos da minha primeira viagem sozinho, e nesta data festiva resolvi passar adiante todos os meus conhecimentos acumulados.

A aula de hoje é a mais importante de todas: Como se posicionar num õnibus cheio para garantir um assento rápido.

Vamos construir o seguinte cenário: duas pessoas entram no ônibus no seu ponto, uma velhinha e você. Você educadamente lhe concede a frente. Ela passa na roleta, você passa na roleta. Ela pega o último lugar vago no ônibus e você amaldiçoa três gerações dela por ter que ficar em pé.

Mas para quê tanto escarcéu? Pensemos pela metade cheia do copo. Ela se sentou no pior lugar do ônibus, na última fileira, entre a janela e o banco do corredor. Está sufocada por um sujeito sinistro, supostamente dormindo, coma cara enfiada na toca de hip-hop, e por um gordo esfarelento com seu saco de Ruffles. Você tem o ônibus para si. O próximo assento a vagar vai ser seu, e será melhor que o da velhinha. Isso nos leva à primeira lição:

1: Nunca sente no pior lugar do ônibus. Ficar em pé é investir num assento melhor.

É claro que nem sempre você será o único em pé. Pessoas entram para a disputa, ou você é que entra pra disputar com elas. Nesse ambiente hostil começam a se formar áreas de influência. A sua área de influência é a fatia de bancos cujas vagas serão incontestavelmente suas, de acordo com as leis da proximidade. Procure sempre ter a maior área de influência possível. Isso leva a duas novas lições:

2: Se houverem poucos concorrentes, posicione-se entre o último deles e os fundos do ônibus.
Faça o possível para obstruir a passagem dos novos concorrentes. Quando não for mais viável, adote a lição #3.
3: Posicione-se sempre no meio da maior lacuna que houver no ônibus.
Algumas vezes, entretanto, o ônibus está tão cheio que não existem lacunas, e as áreas de influência ficam restritas. Nessas horas, existem duas táticas possíveis, descritas nas duas próximas lições.

4: Posicionamento em trinca. Quando assume essa formação, o passageiro garante uma área de influência de três bancos. Ele se posiciona entre dois bancos de uma das fileiras, ganhando o direito de se sentar num dos dois bancos ao seu redor ou no banco diretamente atrás.
Mas é preciso ter timing para saber até quando sustentar essa posição, pois conforme o ônibus vai enchendo as pessoas vão se acomodando onde for possível, e os vizinhos cada vez mais espremidos podem te deixar sem direito a nenhum assento.
4A: A melhor posição para a trinca é nos fundos do ônibus, desde que você não se incomode com o sacolejo e o aperto. Com uma trinca de fundos você ganha direito a nove assentos, mesmo com o ônibus cheio.

5: Para ônibus realmente lotados, é preferível o posicionamento unitário. Coloque uma das mãos na alça de ferro de um dos bancos, e a outra na barra vertical vizinha. Isso faz de você o postulante inegável para o banco que envolveu, posição que pode ser garantida até nos ônibus mais cheios.
5A: A menos que você seja um entusiasta da janelinha, nunca se posicione em frente a marido e mulher, mãe e filho ou mesmo duas pessoas conversando. A probabilidade de que ambos saiam juntos é grande, diminuindo as chances de vagar um assento.

Agora você já sabe o básico sobre posicionamento em ônibus. Olhe no relógio. Hora de sair do trabalho? Hora de ir pra faculdade? Vá praticando.

terça-feira, agosto 21, 2007

5 razões para não gostar do filme dos Simpsons

1: Eles embarcam numa missão para salvar o mundo. Por que toda série de desenho animado, quando transposta para o cinema, ganha uma trama megalomaníaca? Beavis and Butthead, South Park, Bob Esponja, até a Turma da Mônica salva o mundo. Os Simpsons podiam, pra variar, agir como uma típica família americana sentada no sofá, apenas reagindo a pequenas situações insólitas.

2: Homer virou o único personagem engraçado da família. Os demais apenas servem de escada para suas trapalhadas cada vez mais aventurescas e menos condizentes com o perfil de um pai de família acomodado.

3: Personagens hilários como Moe, Krusty, Palph e o diretor Skinner aparecem apenas de relance, enquanto os Flanders, que também são hilários, ocupam meio filme. E a figuração do fundamental Sr. Burns justamente numa trama sobre meio ambiente é inadmissível.

4: Trama sobre meio ambiente, francamente. Esperava-se mais criatividade do enredo.

5: A maioria das piadas não são particularmente inspiradas. Claro, eu e o cinema inteiro rimos do início ao fim. Mas o que faz o filme ser tão engraçado então? A primeira razão é o que a série tem de melhor: o timing. As piadas nunca chegam sozinhas, antes de assimilar a primeira vêm outras duas reforçar o golpe, multiplicando o riso. A segunda razão é que a platéia já entra no cinema ganha. Simpsons é dos raros produtos que agrada a qualquer um. É cool gostar dos Simpsons, então todo mundo dá o seu melhor pra rir bastante. Só eu que sou rabugento.

quinta-feira, agosto 16, 2007

A primeira vez que senti falta de uma câmêra no celular

Deus me livre enfiar a mão em cumbuca ufanista sobre o Rio. A cidade tem mil problemas e não sou eu que vai ficar martelando burramente nas qualidades. Mas hoje de manhã, no Leblon, vi pela janela do ônibus uma cena que só aqui é possível: um sujeito, seus cinqüenta e muitos anos, bigodão desses que prende espuma de chope, todo penteado, engravatado dos pés à cabeça. Indo pro trabalho? Não. Um pranchão de surfe longboard debaixo do braço. Tivesse câmera no celular, tirava foto, mas infelizmente minhas tecnologias não evoluíram tanto quanto a dos outros, e pela primeira vez, fez falta. Fica ao menos o registro escrito.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Charada furada

O que têm em comum os números 4, 5 e 6, que nenhum outro número tem?

A vida paralela do aparentemente pacato e tímido Rodrigo Rego

Que sempre foi bom aluno na escola, teve sucesso discreto na universidade, faz seu trabalho com competência, ama a família e é fiel à namorada. De tão aparentemente tímido e pacato, de tão medianamente bem apessoado e enfadonho, compõe como poucos a paisagem humana ao seu redor. Mas que esconde este figurante de opiniões convencionais quando se mete dentro da cabine telefônica? Que faz quando se afasta do seu círculo sociale chega em casa?

Bem, atualmente, durmo. Me arrasto até a cama, me cubro, babo pra direita e só acordo no dia seguinte. Mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que eu me orgulhava dos meus limitados superpoderes. Por superpoderes me refiro ao entusiasmo para me embrenhar em pequenos projetos autorais, alheios à rotina diária. Sempre tive muito orgulho desses empreendimentos, independente de suas qualidades artísticas, apenas por sentir que estava construindo alguma coisa, ao contrario da maioria das pessoas que se desvencilha de suas obrigações para gastar seu tempo no telefone, no messenger, dormindo ou jogando videogame.

O acúmulo de horas gastas nessas empreitadas particulares geraram um patrimônio considerável, de qualidade facilmente contestável aos olhos de hoje, mas ao menos um volume impressionante. Uma lista aproximada inclui:

- 2 romances policiais
- 2 projetos de romance
- 21 contos
- 3 conjuntos completos de personagens de quadrinhos
- umas 50 tirinhas em quadrinhos, 6 delas publicadas em jornal
- 2 charges, ambas publicadas em jornal
- 1 letra de música
- umas 10 traduções e versões de músicas, para o português, inglês e alemão
- umas 30 caricaturas, entre artistas e conhecidos
- pelo menos 12 projetos de design idiossincráticos o suficiente apra serem chamados de pessoais.
- 127 posts

Agora que tenho um emprego que me consome em média doze horas por dia, me sinto como uma das inúmeras pessoas criativas que se deixaram dragar pela realidade adulta. Meu sonho de me sustentar com um trabalho não-subordinado, criativo, prazeroso e engraçado, ou ao menos manter a minha rotina de projetos paralelos a margem de um emprego convencional não sobreviveu nem ao primeiro semestre após a faculdade.

O sintoma mais evidente foi o recesso de mais de um mês deste blog – aliás, sete dias além do tempo estipulado. Mas ontem, depois de uma conversa com minha mãe sobre os caminhos que minha vida tem seguido, decidi que se não dá pra alterar o curso principal agora sem solavanco, então que ao menos era hora de retomar minhas atividades paralelas – e a volta dos posts semanais é só a primeira delas.

Embora alardear o retorno seja quase sempre o passo anterior à admissão da derrota, não paro por aqui no anúncio das boas notícias. Podem me cobrar para setembro a entrada do meu site no ar, e a partir daí, outras novidades virão. Promessa.

Resposta da charada furada

Quem estiver lendo pelo leitor de feeds, em que a ordem dos posts geralmente se inverte, melhor ler a charada embaixo antes de bisbilhotar a resposta. Que aliás, é: são os únicos números que representam a mesma quantidade de tracinhos necessários para escrevê-los em formato digital (tipo relógio de pulso)

Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
+55 21 91102610
Rio de Janeiro

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