quarta-feira, setembro 26, 2007

Revolução na Neurociência!

Acabo de descobrir que o homem nunca será capaz de desvendar seu próprio cérebro. É questão rasteira de lógica: se o cérebro humano fosse simples o suficiente para nossa compreensão, nós seríamos burros demais para entendê-lo. Mas se possuíssemos a inteligência necessária para explicá-lo, ele seria sofisticado demais para o nosso entendimento.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Afinal, o que são Printable Games?

Essa foi a pergunta que Alexei Zandereiev tentou responder em sua palestra, a última do 2o Encontro de Fabricantes e Aficionados por Brinquedos, no hotel Glória. Alexei é russo, natural de Omsk, e para ele jogos de tabuleiro, assim como músicas e filmes, não precisam mais ser comprados nestes tempos de cultura livre. Os Printable Games são jogos em formato .pdf disponíveis gratuitamente para impressão na internet, já prontos para se jogar.

A idéia começou a se disseminar através do site www.freegames.co.ru/, que por ter sido todo desenvolvido em russo, limitou a influência à Ásia Central. Formou um público pequeno, mas devotado. Tanto que a comunidade geek turcomena, fascinada pelo conceito, estava traduzindo o conteúdo para o inglês, e daí para ganhar o mundo no boca a boca seria um pulo. Alexei, surpreso com o sucesso, já negociava um servidor mais robusto quando seu projeto sofreu um grande baque: robôs de busca da censura chinesa acharam o site, e confundindo o nome do domínio com uma apologia à liberdade, bloquearam-no. Zandereiev, sem backup, tenta reconstruir os Printable Games, e na busca por parceiros para a empreitada, concedeu essa entrevista:

Como veio a inspiração para os Printable Games?
Alexei Zandereiev: Eu me interesso pelo segmento de jogos e brinquedos desde pequeno, embora dos onze anos pra cá tenha perdido muito do entusiasmo inicial. Quando me formei na faculdade, já não tinha mais nenhum contato com jogos de tabuleiro. Fiquei seis anos trabalhando como contador da indústria pesqueira no mar Aral, mas quando as fábricas começaram a falir, perdi meu sustento. Sem dinheiro, peguei uma caravana pelos estepes de volta para a casa dos meus pais. Nos três dias de viagem, passei a observar como os condutores usavam selas de cavalo, tocos de madeira e carvão para inventar jogos maravilhosos e se divertir nas noites de acampamento. Decidi que se conseguisse trazer esse hábito para a cidade, poderia conscientizar as pessoas de que elas têm capacidade fazer seus próprios jogos com qualidade quase igual à dos jogos industrializados, e sem nenhum custo.
Mas os Printable Games têm algumas limitações. Não é todo jogo que pode ser transformado num Printable.
AZ: Sim, porque ao contrário dos velhos cavaleiros cossacos, os ocidentais não têm tempo para esculpir selas de cavalo nem desenhar em forros de couro. Mas têm impressoras, e mesmo as impressoras mais fuleiras de hoje podem reproduzir com uma precisão e vivacidade de cores fantástica. A imensa maioria dos jogos de tabuleiro mais queridos, como Detetive e Banco Imobiliário, podem ser adaptados para impressão caseira.

Quantos jogos você já adaptou?
AZ: Três. Mas a idéia foi tão bem aceita por internautas russófonos, que os Printable Games hoje se contam às dezenas.

Vocês também criam jogos de tabuleiro originais?
AZ: Claro. Adoro. E apesar de parecer imaturo ver um adulto barbado projetando jogos de tabuleiro, acho que o que estou fazendo pode ser relevante em breve. Pois como o donwload é gratuito, pode ser que os melhores jogos se tornem realmente populares depois de um boca-a-boca favorável. Quando estrear o novo site, vou publicar novos jogos, meus e de quem mais quiser enviar. A maioria vai ser ruim, mas o número de downloads e as avaliações positivas vão revelar quais são os jogos que têm potencial para tornarem-se clássicos como são o War, o Detetive, etc.

E para os candidatos a game designer, quais são as recomendações?
AZ: A primeira e mais importante é oferecer os .pdf 's também em formatos A4 e carta, seguindo o padrão internacional, e não apenas no formato semi-tronco.

Formato semi-tronco?
AZ: É uma medida comum das tribos nômades dos Cáucasos que perdura até hoje. Usavam nas gaiolas que expunham pedaços dos guerreiros inimigos. No Brasil vocês provavelmente já seguem um dos padrões internacionais, então imagino que essa regra não é tão preocupante. Outra recomendação para quem quiser adaptar jogos existentes é mudar a diagramação e as ilustrações originais, para respeitar as leis de direito autoral. Fazer linhas de corte para que se saiba como cortar o jogo depois de impresso. Usar o formato quadrado ou retangular para todos os elementos do jogo, pois são mais práticos de cortar. Evitar tabuleiros grandes, que requeiram mais de uma folha para serem impressos, e não prever a utilização de peças tridimensionais, a não ser dados e peões, que se pode tomar emprestado de um ludo qualquer. E por fim: regras muito simples. Ninguém quer passar horas aprendendo os detalhes de pontuação de um Printable Game.

A simplicidade seria então a chave para fazer um Printable Game de sucesso?
AZ: Exatamente. A internet acostumou mal as pessoas. Ninguém mais quer sair de casa para comprar um jornal, ninguém mais quer pagar por nada. Se os jogos de tabuleiro não se adaptarem a essas novas exigências, serão superados pelos jogos casuais em Flash, pela Paciência, FreeCell e Mahjong. Às vezes acho que só em pedir que os internautas recortem as cartas, já estou querendo muito. Sonho em projetar um jogo que sai pronto da impressora. Não sei se consigo sozinho. A comunidade dos Printable Gamers um dia chega lá.

quinta-feira, setembro 13, 2007

Criptocríticas: Santiago

Vi esse documentário semi-acordado, mas ainda assim pude tirar dele uma grande lição. O filme conta sobre o mordomo Santiago, que dedicou a vida a relacionar membros da aristocracia de todos os povos em todas as épocas, dos franceses aos hititas, dos búlgaros aos cheyennes. Quando, quase no fim da projeção, Santiago diz querer que suas 35 mil páginas manuscritas sejam incineradas após sua morte, está sem saber revitalizando o niilismo. Pois se a vida é uma sucessão de desimportâncias entre o nascimento e a morte, a única forma de lhe dar significado é dedicá-la a uma única tarefa, absurda e hercúlea, para ser cumprida sem questionamentos. A relação de aristocratas que Santiago cataloga diariamente, por mais inútil que seja, tornou sua existência muito mais marcante do que a da imensa maioria da população do formigueiro. Por que então deveria ela sobreviver à sua morte? Espero que este blog também seja incinerado quando chegar a minha hora.

Criptocríticas

Se algum investidor estiver lendo, eis a minha idéia para um site de Web 2.0: se chamaria Critcl.com, uma comunidade de resenhistas. Internautas adoram escrever críticas sobre filmes, livros, discos, qualquer coisa. Elaboram textos imitando o jargão jornalístico só para fingir que sua opinião é relevante e construir uma personalidade através do elenco de objetos criticados. Ninguém nunca lê, mas assim mesmo a tendência tem crescido tanto que acho que merece um site só dela.

Critcl.com. O sujeito dá nome e senha, e já aparecem na tela os assuntos sobre o qual ele pode ter interesse em discorrer. Cinema? Música? Arte? Gastronomia? Turismo? As opções são muitas. Feitas as escolhas, ele procura numa base de dados emprestada de fontes especializadas (Amazon, Guia Michelin, Lonely Planet), aquilo que tem interesse em criticar. Põe a cotação de estrelas em cima, e tome resenha. Resenhas para “A menina que roubava livros”, para o novo Fasano Al Mare, para o último modelo da Nikon CoolPix, muitas resenhas, todas enfadonhas, todas perdidas no enxame de informação da internet, mas com estrelas em cima que somadas às outras milhares de estrelas dadas ao mesmo objeto, ajudam a julgar sua real qualidade.

Até aí nada muito diferente da Amazon, exceto por estarmos falando de um site de relacionamentos, em que as pessoas depositam informações extras em seus perfis. Portanto posso filtrar as críticas de “A menina que roubava livros” por região, para saber a opinião só dos brasileiros sobre o livro, ou apenas dos amigos, ou só de quem gostou de “Marley e eu”, ou estuda na mesma faculdade, e dessa forma embasar mais fortemente as críticas, viabilizando até a sua efetiva leitura, em que pese a imitação do jargão jornalístico.

Mas enquanto este blog não for lido por investidores, tenho que arrumar outra maneira de viabilizar a leitura das críticas, inclusive as minhas, que também gosto de fingir que minha opinião é relevante. Uma das poucas vezes que me aventurei neste filão, publiquei três tomos sobre o livro “Vida, Modo de Usar”, que muito acertadamente quase ninguém leu. Então decidi fazê-las mais curtas.

As Criptocríticas terão no máximo quinze linhas de chateação, tão pouco que você termina antes de perceber que está se aborrecendo. Elas serão uma nova sessão aqui neste blog, escritas sempre que alguma coisa despertar mais do que um gostei ou não gostei. Mas sempre curtas, nunca mais de quinze linhas. Segue a primeira no post acima.

quarta-feira, setembro 05, 2007

A versão do motorista

Prosseguindo o tema do transporte público. Hoje de manhã testemunhei um diálogo sensacional entre motorista e trocadora do 175, sobre as diferenças entre dirigir um ônibus comum ou o ônibus do metrô. Fui anotando enquanto eles falavam, e o resultado é um ponto de vista bem diferente do comum sobre a forma certa de conduzir um ônibus na cidade.

M: Eu paro, abro a porta, o passageiro entra. Eu fecho a porta. “Bom dia, eu sou o condutor tal. Próximo ponto, tal.” Fica um papel pra você saber todos os pontos. Aí só depois de fechar a porta que eu posso andar de novo.

T: Mas tem que falar isso tudo em todo ponto?

M: Tem. E aí vamos supor que o passageiro vem correndo na rua fazendo sinal. Se eu já fechei a porta, não pode abrir de novo.

T: Não pode?

M: Não. E se eu abrir, você fica me controlando. A bilheteira fica com um radinho na mão se comunicando com a central. Se eu abrir, ou se eu fechar alguém, você fala pra central, e a central depois me pune.

T: Eu acho errado não poder abrir a porta pro passageiro.

M: Não. O metrô abre a poarta depois que fecha? Não abre.

T: É.

M: E também não posso ficar parando pingadinho qu enem a gente faz aqui não.

T: Não?

M: Não. Só onde tem a placa do metrô. Ali uma.

T: E só pode parar ali?

M: É. Pára e fala, “Bom dia, eu sou o condutor tal”. Todo ponto. Eu não agüentei não. É quem sobe que tem que dar bom dia, não eu. Eu só dou bom dia se me derem bom dia. Se não quiser, eu fico quieto, se der bom dia aí eu falo com o passageiro. Deu quinze dias cravado eu não agüentei, saltei fora.

T: …

M: E tem também que vamos supor que o camarada me fecha aqui. Que que eu faço, eu vou ali na frente e fecho ele de novo. Ônibus do metrô não, tem que andar retinho. Senão a bilheteira fala com a central.

T: Eu tenho que dar bom dia também?

M: Tem. Só não precisa dizer o nome. Eu nunca mais dirijo ônbus do metrô.

T: Mas você não dirigiu no sábado passado?

M: Foi que eu cheguei atrasado na garagem, aí o despachante falou, pega o ônibus do Pan. Mas por mim não pegava nunca mais. “Bom dia, eu sou o condutor tal!”

T: É.

M: Mas eu não falo. Da vez passada veio uma passageira e falou “A sua empresa não instruiu você não?” Aí eu falei, “Sobre o quê?” . “Como você tem que tratar o cliente!” Ah, brincadeira! “Eu sou o condutor tal!” Fala sério. Não agüentei não.

Profile

Rodrigo Rego

Sou designer, fascinado por bandeiras, jogos de tabuleiro, países distantes, e uma miscelânea de assuntos destilados quase semanalmente neste espaço.

Visite meu site, batizado em votação feita aqui mesmo, Hungry Mind.

rodrego(arroba)gmail.com
+55 21 91102610
Rio de Janeiro

Links
Melhores Posts
Posts Recentes Arquivos Powered by Blogger

Creative Commons License