O mundo é um álbum de figurinhas
Era pra ser uma viagem de família só. Tudo bem que família e Tailândia é meio ousado. Mas muito mais ousado que isso são as agruras que vamos passar por ir a reboque de milhagem de companhia aérea.
Quem vai de milha não tem vôo direto. Se é pra ir pro outro lado do mundo então, aí a lógica da linha reta se perde por completo. Nosso mês na Tailândia, sonho acalentado há décadas, fruto do esforço de várias gerações desde a chegada dos primeiros imigrantes das famílias Rego (do japonês, se pronuncia com circunflexo no O) e Buenting (do chinês, evidentemente), nosso mês na Tailândia virou uma viagem pinga-pinga, dessas que mal você desembarca numa cidade já tem que correr pra próxima.
Pensamos todos o mesmo agora, né? Viagem perfeita! Eu também. A família, no entanto, não partilha das idiossincrasias da comunidade leitora deste blog. Por isso fiquei semanas burilando um trajeto que fosse ao mesmo tempo:
- Possível de ser feito com a milhagem.
- Plausível como viagem coerente (falhei um bocado aqui, mas a galera fez vista grossa).
- Dissimuladamente, uma sucessão de escalas em países ermos.
Ida
Houston. O hub da Continental Airlines é inevitável, mas não é de todo ruim, pois fica no 2o maior estado americano. Sem tirar o pé do aeroporto, risco da lista todo o Texas,
Los Angeles. Ponto de partida para atravessar o Pacífico e maior cidade do terceiro maior estado americano. Se algum dia eu for ao Alaska, terei conhecido quase metade do território americano sem nunca ter estado em 90% dos seus estados.
Taipei e Hong Kong. Escalas da viagem que não poderei computar, já que não poderemos sair do avião.
Cingapura. O ponto fraco da lista. Uma nação longíngua como qualquer uma fora do Atlântico. Mas dentre as asiáticas, Cingapura é uma das mais calejadas, e ainda por cima mixuruca. No mapa, o pisão pra fora do aeroporto vai ter quase o mesmo tamanho do país.
Bali. A milhagem nos deixa aqui. Não tinha vaga até a Tailândia. Mas por que Bali e não Kuala Lumpur, a família pergunta. Afinal, a passagem pra Bangkok é bem mais barata de lá.
Motivo alegado: belas praias (
Motivo real (ultra-secreto):
Viagem
Tailândia. A razão de ser inicial da viagem, cheia de praias, ruínas, templos (
Camboja. Não é só por ser um país ermo. Isso tem vários ali perto. É a sonoridade do nome. Cam-bo-ja. Tem algo de ridículo em se deixar dizer “Fui ao Camboja”, e esse é o espírito da coisa. Talvez por ser um país masculino que termine com “A”. Talvez sejam essas sílabas, BO-JA. Não sei. Oficialmente, vamos a Angkor Wat. Subrepticiamente, vamos pra encher a boca ao dizer “visitei as maravilhas do Camboja”.
Volta
Filipinas. Daqui começa nossa odisseia de volta. O trecho a partir de Bangkok estava indisponível. Nada mais conveniente. As Filipinas são o maior arquipélago do mundo. Um passo pra fora do aeroporto e plof, as ilhotinhas estão todas marcadas. Um ignorante em geografia pode até achar que cada uma é um país diferente.
Guam. Sem dúvida, o ponto alto da viagem. Guam, pouco mais que um arrecife no meio do Pacífico, base militar americana, 3a bandeira mais feia do mundo, será provavelmente o lugar mais esquisito que eu jamais irei na vida. Uma pena que não chegaremos na Páscoa, quando a tradição local promove uma gigantesca caça ao ovo em uma das ilhas. Ou talvez melhor assim. Como seguir a vida tendo a certeza de que o ápice já passou?
Havaí. Pode não ser grande, mas por estar no meio do oceano (
Houston novamente, e depois, Rio de Janeiro. Ah, tédio.