Por que só banda velha toca em estádio?
Não vou mais no show do Police. Estava decidindo se valia à pena pagar 95 reais pra ainda ter que buscar no Maracanã os ingressos, mas eles esgotaram enquanto eu matutava.
Nem me passou pela cabeça a hipótese de um estádio de futebol completa e antecipadamente lotar pra um show de banda de rock. No panorama roqueiro atual, que conjunto mobiliza mais de dez mil pessoas quando vem ao Rio? Strokes? Franz Ferdinand? Não passam nem perto. O último que peitou Wembley com cancha de megastar foi o Oasis. Desde então sobrevivemos de bandas que parecem prontas pra decolar mas só dão vôo de galinha.
A cultura indie e a internet são as maiores responsáveis pela escassez de superbandas. A primeira semeou a idéia de que é preciso estar fora do sistema pra ter qualidade, a segunda colocou milhares de bandas sem mídia ao alcance de qualquer um. As duas juntas alimentaram a idéia de que para cunhar sua identidade musical é preciso formar um portfolio vasto de bandas obscuras. É o fim de Queen, Madonna, Pink Floyd, Rolling Stones. Ninguém mais aceita o que a MTV empurra, todo mundo agora é formador de opinião. Os grupos que tem êxito suficiente para serem adotados pelos canais de mídia convencionais são subitamente esnobados. O Oasis foi o último a almejar a dinossauritude, e foi atropelado pelas críticas. Hoje nenhuma banda ousa o estrelato. A cultura indie confunde popular com vulgar.
Exemplo mais claro que os Hermanos não há. Assustados com o sucesso de Ana Júlia, lançaram dois CDs mais MPBistas do que roqueiros, e em seguida um último disco quase etéreo. Querem consolidar um nicho, não arrebatar multidões. Por fim, como o frenesi não parava, e as críticas ficavam cada vez mais ácidas, a banda se separou.
O fim das superbandas de estádio é bom para a cultura? Se pensamos em cultura como seus produtores, com certeza. Nunca houve tantas chances de se fazer ouvir, sair da garagem para o Canecão, do blog para a Saraiva. E se pensarmos do ponto de vista do público? Também é bom. As pessoas têm mais chance de encontrar uma voz que diga o que lhes interessa.
Mas se pensamos em cultura com a herança de um povo, estamos mal parados. Há quanto tempo não surge um romance que marca uma geração, ou um artista plástico cujo nome não se limita ao circuito de arte? Estatisticamente, não faz sentido que uma geração seja menos talentosa que outra, mas mesmo assim todos os grandes artistas do século XX nasceram antes de 1950.
É lei de mercado: a oferta em demasia banaliza o produto, e embora dê voz a quem antes era injustiçado, torna cada vez mais difícil pinçar obras-primas. E se hoje cada um anda com seu póprio iPod, como vamos voltar a entoar hinos de geração?