Pubidê – Publicitários Idealistas
Ouvi falar, não sei ainda se é verdade, que circula pela Puc (onde mais?) um grupo de alunos de publicidade cheios de ideologia. Já tem nome e tudo: Pubidê.
Publicitários não costumam manter convicções por muito tempo, a base da profissão é a maleabilidade do discurso. Num dia você defende os bebês foca para o Greenpeace, no outro passa com um Land Rover por cima deles pra mostrar uma aventura. Mas será mesmo, questionam os membros do Pubidê, que esmagar focas num comercial é a melhor maneira de definir o Land Rover como um carro aventureiro? Ou quem sabe um videogame com carros que esmagam focas não envolve o público ainda mais no universo da Land Rover? O Pubidê debate o método, não a mensagem.
O Pubidê é rigoroso. Quem entra explica a doutrina de marketing em que acredita e a partir de então só pode comprar produtos anunciados com a estratégia que defende. Eles não têm hora fixa pra se reunir, mas sempre tem um encostado numa quina da salinha do CA, e se chegar um segundo a discussão se abre automaticamente. São apenas seis membros, cada um representa uma corrente de pensamento da marquetologia.
O primeiro se chama Abel, e essa ordem é alfabética, e não de afinidade. Ele acredita que o futuro da propaganda é o viral. O melhor anúncio é aquele que desperta tanto interesse que o público se torna não só consumidor como colaborador na propagação. Ele usa Nike como o Ronaldinho Gaúcho, não vê tevê e só se atualiza através de blogs.
Anúncio favorito: Twix Gigante
O segundo é chamado Demiurgo, e ele crê que propaganda boa é a que vai direto ao ponto. Ele puxou créditos de jornalismo, e diz que um anúncio tem que funcionar como o lead de uma matéria: dizer o quê, onde, quando e a que preço antes de qualquer espalhafato. O público está cansado de rodeios, quem dera todo comercial fosse como os de supermercado. Só come chã, patinho e lagarto, e divide até frango de padaria em quinze vezes sem juros.
Anúncio favorito: Casas Bahia
Em seguida vem Jocasta, que acha que comercial é entretenimento. A peça deve contar uma história, encantar o consumidor para conseguir aliciá-lo. Ela só compra produto que tenha bichinho ou mascote, estoca gelatina Royal e congelado Sadia, depois limpa a sujeira no fogão com aquela esponja de aço que dança Felipe Dylon na televisão.
Anúnico favorito: Zoológico de Buenos Aires
O próximo é Leonel, que se graduou e está no mestrado. Ele teoriza que a grande arma da publicidade é o exagero. Quando um comercial mostra um caminhão de mulheres atrás do Zé e seu frasco de desodorante, ninguém acredita que isso seja possível. Mas é esse exagero que torna plausível a premissa absurda de que sovaco seco atrai mulher. Leonel usa Axe, mas não arruma namorada porque é um cientista: está acumulando roupa suja o ano inteiro para ver se seu sabão em pó faz mesmo o que o anúncio diz que faz.
anúncio favorito: Carlton Draught
A quinta se chama Taciane, e ela acha que outdoors, comerciais de tevê e virais não funcionam mais. 99% do que o consumidor vê é esquecido instantaneamente. Ficam duas opções: torcer para fazer publicidade que fique nos um por cento restantes ou anunciar só quando o consumidor quiser comprar, e acertar sempre. Sim, Taciane faz até supermercado com o Google Adsense, aquela barra lateral milagrosa que mostra oferta de sapatos quando você procura por sapatos no Google.
anúncio favorito: Apple e Nokia no Google Adsense
O último é Vinicius, o niilista, e ele crê que a publicidade acabou. O consumidor não acredita em mais nada do que vê, o excesso de propaganda criou nele uma camada intransponível de ceticismo. A única fonte confiável é o boca a boca: gastar com comercial é rasgar dinheiro. Um bom produto não precisa de publicidade nenhuma para se afirmar no mercado. Os outros cinco olham céticos para ele:
- E você tem algum exemplo de produto que dispense propaganda? – pergunta um.
Vinicius enrola um baseado.
- Oohhh! – e o debate acaba.