A Torre de Pisa
Estar diante da Torre de Pisa dá um certo frio na barriga. Ela surge atrás de uma esquina comprida, e mesmo sabendo pelo mapa que ela já já vai aparecer, continua causando surpresa. É o momento em que o ícone, a lenda, o massificado cartão postal italiano sai da quadricromia das revistas e se materializa tresdê aos seus pés, com frente, fundos e gente andando em volta. Vira realidade.
O único problema da Torre de Pisa é a cidade que a cerca. Não que Pisa seja uma cidade feia - não é feia nem bonita, gorda nem magra, não fede nem cheira. E justamente por ser um zero à esquerda é que toda a economia de Pisa está centrada neste campanário - pois é isso que a torre é, um suprote de sino de igreja que deu errado.
E cobram quinze euros a entrada. Quinze! Pela taxa de câmbio, dá R$52,50 pra subir, ver a vista rapidinho e descer, em cronometrados trinta minutos e um monte de japonês atrapalhando. Quinze euros pra ver por dentro o clichê das viagens, que se for parar pra pensar, não é nenhuma maravilha estética, está mais para um paradigma de incompetência do cálculo estrutural.
Eu não paguei. Eu não compactuo com extorsão dirfarçada de cultura, com o turismo automático da bandeirinha do guia, por mim Pisa minguaria lentamente até a ruína. O problema é que os japoneses não partilham dessa mesma ética mochileira, eles seguem como tratores fotografando e sustentando essa indústria do mal, o que deve garantir boa sobrevida ao turismo-espetáculo.
Seguindo a mesma lógica, passei longe também da uma hora de fila ao relento pra ver o piru do Davi do Michelangelo - e depois ainda comprar a cueca do piru, artigo mais comercializado em Florença - e das três horas pra ver a Vênus de Botticelli, que diga-se de passagem vejo todo dia sem cabeçada na frente quando abro o Illustrator. Quer dizer, seja por ética ou pãodurice, acabei não fazendo muita coisa nessa viagem pelo norte da Itália. E o pior é ter a impressão perene de que os japoneses estão sempre se divertindo muito mais do que eu.