Por que é melhor ficar no Rio
Amanhã completam-se 4 semanas que a Paula foi pra França, e ainda me restam outras 36 antes de ela voltar. Meu plano original era ir junto, mas como não consegui, tenho que passar esse tempo de outra forma.
Um carioca comum na mesma situação teria toda razão em se lamentar. Mas há excelentes motivos para se ficar no Rio chupando o dedo em lugar de comer pão ensovacado em Paris. A mente fraca até sabe quais, se lembra de um aqui, esquece de outro logo mais, e por falta de organização não se agarra a nenhum deles e acaba afundando na saudade.
A mente forte faz uma lista de ótimas razões para continuar no Rio e prega na tela do computador que é pra lembrar delas sempre.
Razões indiscutíveis para se ficar no Rio
1. Descobrir o futuro do Trocadero Othon
Tem um hotel na esquina da minha rua com a praia que está em reforma há três anos, sem dar pista do que possa virar. Uma capa preta cobre a fachada como se fosse um truque de desaparecimento mágico demorado, a qualquer momento cai o pano e o que será que aparece no lugar? Um não-hotel, assim espero, algo que valha a expectativa. Uma usina nuclear, um obelisco, uma obra póstuma gigante do Amílcar de Castro. Meu chute: um parquinho.
2. Turismo intramunicipal
Você pode dizer que conhece Paris, mas duvido que tenha a petulância de dzer que conhece o Rio. As pessoas sequer conhecem seu próprio bairro. Copacabana, cada vez que eu acho que completei, surge mais uma rua pra explorar. Sete anos atrás, descobri que havia um morro entre a Barata Ribeiro e a Nossa Senhora, perto do metrô. Anos depois, achei outro logo em frente, entre a Nossa Senhora e a praia.
Quero cumprir a antiga promessa de entrar no Jardim Pernambuco. Quero depois subir uma dessas ladeiras de São Conrado que não vão dar nem na favela nem no Itanhangá. E mais: chegar em Santa Teresa pela Lapa e sair pelo Cosme Velho e andar pela rua que liga o Jardim Botânico a Botafogo por cima do Rebouças, pra começar.
3. Horário político
Muita gente diz que gosta de horário político pra ver o show de horrores dos candidatos a vereador, mas a mim aquilo só me deprime. Gosto de ver as campanhas dos prefeitos. Não sou militante nem nada, mas adoro me deixar enganar pelas propostas milaborantes para a cidade. Se toda obra fosse tão barata quanto a maquete, o Rio hoje teria no mínimo um monorail e um aquário público.
4. Civilization III
Redescobri e tenho jogado tresloucadamente. Nada melhor para curar a solidão que embolar um monte de soldadinhos numa guerra de civilizações. Claro que poderia fazer isso em Paris também, mas a consciência ia pesar muito mais.