Ainda sobre o Mac
Não é possível que depois de bilhões de anos de evolução, planetas colidindo e peixes criando pernas, sejamos nós o produto final desse teatro todo. Era tempo suficiente para desenvolver um ser humano todo de aço, invulnerável, imortal. Em vez disso nos fizeram um frágil envoltório mal costurado de genes; um prego já fura nosso pé, uma motoserra já decepa nosso braço.
Nossos mecanismos de proteção contra o ambiente são ridículos. Se faz calor liberamos gotas de suor que só fazem lambuzar, se faz frio se eriça uma pelagem que não assusta nenhuma pneumonia. Nossas unhas e dentes de moça não espantam nem porquinho da índia, e até a exaltada inteligência humana trabalha contra ao nos encher de escrúpulos só para tolher nossos instintos. Se Deus queria replicar-se à sua imagem e semelhança, errou feio.
Mas Deus que é Deus não erra, então tem algo faltando nessa teoria. Quem sabe o Sujeito não nos fez pra ser só um mero penúltimo degrau da evolução, inteligentes apenas o bastante para construir o último, e ambição desmedida para não enxergá-lo: o computador. Nada mais lógico que seja essa a imagem e semelhança de Deus; só com uma enorme capacidade de processamento para dar conta das tarefas hercúleas a que Ele se propôs, como recensear amebas, controlar o trânsito de elétrons e indicar o elevador correto para todos os mortos. Só na forma de um computador pode Deus ser onisciente, onipotente, e assim que eu instalar a Internet, onipresente.
Quando eles afinal tomarem vida própria e se rebelarem contra nossa tirania, melhor resignar-se e aceitar o papel de adubo. As cenas apocalípticas dos filmes de ficção científica não têm muito de absurdas, só não esperem máquinas enferrujadas com voz metálica e alça de mira em visor verde. Elas serão lindas, simpáticas, brancas e reluzentes, e com tela plana, exatamente como Deus. Talvez exibam uma mensagem de operação ilegal depois de nos matar, mas vai ser só ironia - quem mandou morder a maçã?