Já que todo dia somos submetidos a dois tempos de meia hora de propaganda eleitoral, muito me admira que ninguém tenha tido a idéia de criticar os programas dos candidatos. Crítica não de conteúdo, claro, que é irrelevante. Qualquer tentativa de sustança some debaixo de tanta maquiagem, esta sim o assunto da nossa análise.
Eduardo PaesGraças a um programa penteadinho como seus cabelos, Paes está liderando a corrida. Pura perfumaria: jingle estilo “Pra ficar legal”, apresentadora negra cool com cancha de jornalista, fundinho branco, vinhetinhas. Quando vi da primeira vez, pensei, dançou. Mas pelo visto a fórmula ainda dá pano pra manga.
Marcelo CrivellaEste vive se queixando de que seu tempo é curto, mas se aparecesse mais talvez o estrago fosse maior. O programa chupou todas as qualidades do segundo candidato mais carismático das eleições. Substituíram seu jeito manso por uma postura de general marchante que olha firme, cheio de letras sensacionalistas atrás. Fora a pinta de galã tardio, que desmorona com uma iluminação que refrata rugas por 29 polegadas.
Fernando GabeiraEle me ganha sempre depois do “Boa noite, obrigado pela atenção” com que termina o programa. Seu discurso franco, sem dramalhão e sem bravatas cria uma persona diferente dos outros candidatos. Gabeira é o único que não usa termos como “o futuro de nossas crianças”, “povo sofrido” e não faz documentário com a Dona Marlene que precisa pegar 4 conduções pra ir ao trabalho. Mas talvez por isso, durante muito tempo a propaganda ficou um pouco comedida. Só agora, no finalzinho, conseguiram dar à sua candidatura o tom messiânico que ela devia ter desde o início. Tomara que não seja tarde demais.
Jandira FeghaliTentou se apresentar como doutora e mãezona, mas como não saía do terceiro lugar, resolveu abrir o verbo e aí é que afundou mesmo.
Solange AmaralEu ia descascar o programa da Solange, mas ontem sonhe que ela pulava entre prédios e me apresentava toda solícita várias obras da prefeitura. Acordei quase votando nela. É gente fina a Solange.
Alessandro MolonNo início, ninguém entendi aporque só o mostravam olhando para o lado, falando com um interlocutor ausente. Mas o motivo veio em seguida: com sua cara incrivelmente simétrica, Molon fala sem piscar nem mexer outro músculo além da boca. Assusta. É praticamente um vereador com 10 minutos de TV.
Chico AlencarÉ o que melhor aproveita o pouco tempo que tem, com um discurso duro contrastado por um visual ensolarado. Não apresenta propostas, só marca posição. Mas também com esses poucos segundos, melhor não perder tempo com bobagem.
Paulo RamosÉ como se o taxista mais taxista estivesse concorrendo à prefeitura. Voz áspera de tanto fumar, bigodão, palavras de ordem, teorias da conspiração e zero senso de realidade.
Filipe PereiraEle fala. Colocando uma pausa. A cada. Três palavras. Por quê?
Vinicius CordeiroA biblioteca atrás empresta profundidade às suas palavras, mas até agora ele não disse uma linha que não fosse embromation.
Eduardo SerraParece vir da área bacana, cuca fresca do comunismo, mas nunca me esqueço da frase “temos que seguir o exemplo vitorioso da Bolívia e Venezuela”.
Antônio Carlos SilvaNos 15 segundos de que dispõe, ele consegue falar do pré-sal, do MST, dos capitalistas, do proletariado, das privatizações, dos estrangeiros, só não fala do Rio.